A etapa de ascensão de Alejandra Rodríguez à ambicionada coroa de Miss Argentina não é apenas um evento isolado, mas sim um marco significativo na luta contra o preconceito etário. Num mundo onde a juventude é muitas vezes idolatrada e a beleza é definida por padrões estreitos e efémeros, a vitória de uma mulher de 60 anos num concurso de beleza — onde, pela primeira vez desde 1958, não houve imposição ao limite de idade — desafia diretamente as noções limitadas e passa uma poderosa mensagem ao mundo.
A história de Alejandra parece ser bem mais simples, já que esta morena de olhos verdes nunca antes se interessou por concursos de beleza. Mas ao fazê-lo pela primeira vez e ao ganhar, torna-se um poderoso elemento de uma sociedade em transformação e tão obcecada pela eterna juventude.
O idadismo, como forma de discriminação baseada na idade, permeia muitos aspetos da sociedade, desde o mercado de trabalho até aos meios de comunicação, com as mulheres a enfrentarem pressões implacáveis para parecerem jovens e atenderem aos padrões inatingíveis de beleza. Essa mentalidade não só marginaliza aqueles que não se encaixam nesses moldes, mas também perpetua a ideia de que a idade é um fator limitante, em vez de uma fonte de sabedoria e experiência.
A participação e vitória de Alejandra no concurso Miss Universo da província de Buenos Aires desafia diretamente essa mentalidade. A sua presença no palco, irradiando confiança e elegância, envia uma mensagem poderosa: a beleza não tem idade. Ao abrir espaço para mulheres mais velhas em concursos de beleza, a participação e vitória de Alejandra desafia ativamente as normas estabelecidas, imprimindo e reconhecendo a poderosa mensagem da diversidade e riqueza que vêm com o envelhecimento.
Mas mais do que isso, a vitória de Alejandra destaca a importância da representação. À medida que cada vez mais mulheres mais velhas ocupam espaços tradicionalmente reservados a mulheres mais jovens, redefine-se o que significa ser belo, valorizando-se a maturidade e a autenticidade. Essa representação positiva é fundamental para mudar perceções e desconstruir estereótipos arraigados sobre o envelhecimento.
Ao desafiar o idadismo, a abertura dos concursos de beleza a mulheres mais velhas não só ajuda a promover a inclusão e a diversidade, como também reconhece e celebra a beleza em todas as suas formas e idades. Alejandra Rodríguez e outras mulheres como ela – no mesmo concurso havia outra concorrente ao título com 73 anos – estão a liderar o caminho para uma sociedade mais justa e inclusiva, onde a idade é vista como um aspeto da vida a ser valorizado, e não como um obstáculo a ser superado. E, sim, é possível ser bela aos 60 e aos 73.
Num mundo onde a beleza é muitas vezes definida por parâmetros estreitos e superficiais, a coroa de Miss Universo de Buenos Aires sobre a cabeça de Alejandra brilha como um farol de esperança e mudança.
Veremos se, já no próximo dia 25 de maio – data em que defenderá o título no concurso de Miss Argentina, caso vença as demais 27 finalistas da etapa nacional – voltará a fazer história e a defender a sua beleza a nível internacional no concurso Miss Universo. Acredito que, mesmo que esteja rodeada de jovens de vinte e poucos anos, ela fará a diferença.
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