Estamos sempre a arranjar desculpas para justificar o nosso comodismo: ou porque o trabalho não permitiu, ou porque está de chuva e hoje não é um bom dia, ou porque deixámos a prescrição médica em casa, ou porque agora o mundo enfrenta uma pandemia e, por isso, não é bom ir a um hospital ou a um centro de saúde...

Por isto ou por aquilo, a verdade é que arrastamos estes assuntos que consideramos "não urgentes" e vamos empurrando com a barriga até tudo se alinhar, até estarmos com disposição "de", até acharmos que a nossa saúde faz uma espécie de ‘pause’ para nos dar um diagnóstico favorável no dia em que decidimos dar-lhe atenção…

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Mas todos sabemos que finais felizes só nas histórias e, mesmo assim, ninguém nos diz se o Príncipe e a Cinderela viveram mesmo felizes para todo o sempre. Quero com isto dizer que até eu, que vos escrevo, adiei durante meses os meus exames anuais de rotina e contei a mim mesma todas as “desculpas” que vos enumerei acima, só pela pura preguiça de ter de perder uma manhã ou horas do dia a fazer os vários exames que a minha ginecologista me passou em julho último. “Afinal não tenho nada, estou saudável, posso esperar mais um mês, são pura rotina”, dizia a mim mesma, enganando-me várias vezes. E é com estas desculpas na cabeça, que contamos várias vezes a nós próprias, que começa o principal erro: negligenciar a nossa saúde. Colocá-la em segundo plano. E não, nada justifica isso.

Algo tão simples como uma ida à médica de família ou à ginecologista pode ajudar a detetar uma doença num estado precoce, com tratamento bem-sucedido e sem sequelas. Exames como uma mamografia (se já tiverem mais de 40 anos), ou uma eco mamária, podem detetar tumores ou cancro da mama numa fase inicial; um rastreio ginecológico, como uma citologia (conhecida como o Teste de Papanicolau), pode detetar casos de HPV, o vírus que evolui lentamente para a forma de cancro do colo do útero – sendo por isso tão importante uma ida anual ao seu ginecologista e perder os medos e as vergonhas; uma ecografia pélvica ou uma ecografia transvaginal podem ajudar a detetar quistos nos ovários, tumores ou outro tipo de problemas que podem dar origem a doenças graves.

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créditos: foto: Annie Spratt/Unsplash

Por isso, não deixe que uma pandemia e as restrições impostas por causa da mesma a impeçam de zelar pelo seu bem mais precioso: a sua saúde. Coloque-se a si própria em primeiro lugar, sem desculpas!

Em Portugal, segundo dados da Liga Portuguesa Contra o Cancro, surgem 6000 novos casos de cancro da mama por ano, ou seja, 11 (onze!) novos casos por dia, morrendo por dia 4 (quatro!) mulheres com esta doença. Apesar de a maioria dos casos de cancro de mama terem uma taxa de sucesso acima dos 90%, é importante não descurar o seu diagnóstico precoce e isso só é conseguido através dos exames de rastreio. Se por causa de uma pandemia não os faz, está a negligenciar a sua saúde e a pôr em risco a mesma, empurrando com a barriga um assunto que, não sendo tratado atempadamente, pode ter consequências graves na sua vida.

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A mesma Liga Portuguesa Contra o Cancro estima que, nos últimos oito meses, quase 1000 cancros da mama, do colo do útero e colo-rectal não foram diagnosticados devido à COVID-19, expondo esta tendência de assobiarmos para o lado e esperarmos que a tempestade passe. Acontece que a tempestade veio para ficar, não sabemos quando é que passa, e temos de aprender a viver com ela.

Não dê desculpas a si mesma de que não vai ao médico ou não vai fazer exames porque tem medo de apanhar o vírus. Se tiver os cuidados que é suposto ter – usar máscara, lavar as mãos com regularidade e desinfetar – verá que não é o vírus que a impede de continuar a zelar pela sua saúde e de se pôr a si própria em primeiro lugar.

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créditos: foto: Sandy Millar/Unsplash

Por isso, peça as credenciais à sua médica, vá à(o) ginecologista...

– e aqui convém mesmo fazer uma pausa e falar abertamente de algo que parece tão simples, mas que a maioria das mulheres, mesmo as mães de família, fogem de fazer por pura vergonha –

... como assim, vergonha de ir à(o) ginecologista? Se não se sentem à vontade com um médico homem, escolham uma médica mulher; se não gostam do vosso porque vos magoa, não sentem ligação ou ficam desconfortáveis, peçam uma segunda opinião a alguém de confiança, mudem de médico, mas não negligenciem uma zona do vosso corpo tão importante e que requer tanta atenção quanto todas as outras. Acima de tudo, não arranjem desculpas para não o fazer.

A melhor notícia da saúde está na prevenção e está nas vossas mãos atuar.

Se o outubro foi rosa, torne este novembro dourado, para que possa celebrar sem medos! Lembre-se: o combate ao cancro deve ser uma prioridade contínua, que não pode ficar em segundo plano face à pandemia da COVID-19. Faça de si uma prioridade.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo já passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.