A verdade, no entanto, é que a maior parte de nós não está presente, a maioria do tempo. Quando nos perdemos nos nossos pensamentos, ficamos adormecidos - isto é o que nos diz a tradição yogi.

Pensamentos inconscientes normalmente transportam-nos para o passado ou para o futuro, deixando-nos à mercê do medo, negativismo, insatisfação... e, ao praticar a arte de estarmos presentes, gerimos e escolhemos onde colocamos a nossa atenção e o nosso foco. 

Indicadores de abstração e não-presença incluem perder as chaves do carro, os óculos de sol ou o guarda-chuva, não saber onde deixámos o telemóvel, sentirmo-nos sempre a correr, ou não nos lembrarmos de conversas... ler um livro e, de repent,e percebermos que estamos na mesma página há 10 minutos, ou fazer “scroll” no telemóvel durante minutos e minutos sem levantar o olhar.

Quando nos perdemos no pensamento, a nossa consciência desliga-se do nosso corpo e flutua sobre a nossa mente. Quem nunca deu por si a questionar-se onde está, exatamente, num determinado momento?

#AlmaYogi: a história por trás dos asanas – Virabhadrasana (ou Posição do Guerreiro) 
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Para um praticante iniciado, as posturas físicas do yoga (asanas) podem ser o caminho mais imediato para o momento presente, para o aqui e o agora. Para além de todos os benefícios físicos, o benefício maior das asanas é este mesmo, o de nos mantermos presentes. Aprender e manter posturas é uma forma de manter o nosso foco no corpo físico, por exemplo quando fazemos uma postura mais desafiante, como Bakasana (equilíbrio sobre os braços), se vaguearmos em pensamento, dificilmente vamos conseguir manter o equilíbrio e há uma grande probabilidade de aterrarmos de cara diretamente no chão :) Uma consciência intensa tem um melhor resultado do que a cafeína no efeito de nos manter despertos.

Numa fase posterior, e se as posturas físicas deixam de ser tão desafiantes, a atenção passa para a respiração. O padrão rítmico de respiração-movimento conecta-nos à energia universal e pode ser o primeiro sinal de uma mente tranquila em ação.

Quando estamos despertas, estamos atentas e apreciamos o envolvente, ao mesmo tempo que gerimos os nossos pensamentos e ações. Viajar e visitar novos destinos pode ser, por exemplo, uma excelente forma de sair da nossa rotina inconsciente. Talvez por isso gostemos e desejemos tanto viajar? Não é verdade que quando estamos a conhecer um novo sítio/cidade pela primeira vez, tendemos a prestar atenção?

Sair da rotina, dos nossos padrões de pensamento habituais, ajuda-nos a lidar melhor com situações de stress e a sentirmo-nos mais felizes. Mas no nosso dia-a-dia, trazer continuamente a nossa consciência de volta ao momento presente exige um trabalho e esforço contínuos. Isto é yoga!

Não significa que nunca iremos estar tristes, ou ter sentimentos de frustração, ou que nunca vamos ter problemas. Faz parte da condição de ser humano experienciar um conjunto diverso de emoções - positivas e negativas. As emoções são uma parte vital da vida e podem ser poderosos mensageiros de processos de cura. O estado de presença ajuda-nos a observar com uma maior clareza, a fazer escolhas mais conscientes, e desta forma não nos sentimos constantemente bombardeadas por pensamentos negativos e desnecessários.

#AlmaYogi: que livros tenho na minha cabeceira?
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Quando nos deixamos absorver pelas divagações da mente, construímos muros que nos desligam da realidade, através de histórias e realidades paralelas, criadas por nós mesmas. São muros que em momentos já nos fizeram sentir seguras, mas que não passam de ilusões, não são reais, e em determinado momento vão deixar de nos servir e podem, até, ser-nos prejudiciais. Com a consciência do momento presente, estes muros começam a dissolver-se, revelando novas realidades à nossa volta. Pode assustar-nos no início mas, aos poucos, devolve-nos liberdade.

Proponho uma prática de Eckhart Tolle: cada vez que lavares as mãos ao longo de um dia, coloca toda a tua atenção neste simples ato. Permite-te sentir a água nas tuas mãos, repara na temperatura da água e na sensação que provoca em ti, observa a tua respiração e relaxa os músculos do teu rosto e dos ombros. Permite-te estar no momento.

Para finalizar, proponho também uma meditação de Thich Nhat Hanh (Touching Peace). Encontra uma posição sentada que te seja favorável e confortável, direciona o teu olhar para o chão ou fecha os olhos e repete o seguinte mantra lentamente e em silêncio:

Ao inspirar, eu tranquilizo o meu corpo. 

Ao expirar, sorrio. 

Habitando no momento presente, 

Eu sei que este é um momento bonito” 

Encontra o teu ritmo e, sem julgamentos, simplesmente repara quando a tua mente vagueia. Sempre que isso acontece, redireciona a atenção para a tua respiração e volta ao mantra. Quando decorares o mantra, experimenta talvez repeti-lo lenta e silenciosamente durante uma caminhada meditativa.

"We have to be in the present time, because only the present is real, only in the present can we be alive. We do not practice for the sake of the future, to be reborn in paradise, but to be peace, to be compassion, to be joy right now.” 

(Thich Nhat Hanh, Being Peace)

Sara Sá estudou Comunicação Social, mas especializou-se em Relações Públicas e trabalhou 15 anos como tal. A paixão pelo Yoga levou a melhor e, deixando o emprego e vendendo tudo o que tinha, abriu no Porto o MANNA, um espaço onde partilha, com quem por lá passa, a sua filosofia de vida.