Se no inverno somos conquistados por uma energia yin, que nos leva a um maior recolhimento, a primavera convida-nos a florescer, conferindo-nos uma energia mais yang! É também assim que se comporta a natureza. Repara como no inverno a energia vegetal se move no sentido descendente, em direção à raiz: as folhas murcham e morrem, à medida que a seiva desce para a raiz e a planta fica mais condensada (mais recolhida), sendo a época dos vegetais de raiz – cenouras, nabos, abóboras, etc..

Ao longo da primavera e início do verão, a energia vegetal move-se em sentido ascendente (florescimento) e começam a surgir os verdes (alfaces, espinafres, nabiças…) e as frutas e vegetais com mais água, que têm a capacidade de arrefecer o nosso corpo à medida que as temperaturas começam a subir.

Basta observar e estar consciente do comportamento da natureza para facilmente percebermos a que tipo de alimentos devemos dar preferência na nossa dieta, em cada estação. Especificamente na primavera, vamos dar preferência a vegetais de folha verde, a cereais mais leves (aveia, cevada, centeio…) e comidas mais ácidas.

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Segundo a medicina oriental, o fígado é o órgão mais ativo nesta altura do ano e, por isso, temos aqui uma excelente oportunidade para revigorar este órgão, através do consumo de muitos vegetais verdes, rebentos, alimentos frescos e levemente cozinhados (preferência cozinhados a vapor e escaldados), temperados com sumo de limão, vinagre de arroz ou de cidra, assim como alimentos fermentados e pickles caseiros.

Importante também referir que o fígado é o órgão que controla o nosso estado anímico e emocional, e está ligado ao sentido da visão, tanto a nível físico como metafísico (um bom fígado dá-nos a capacidade de visão de futuro, de mente aberta, de projetar os nossos sonhos…).

Deixo aqui duas figuras que acho muito bonitas e que “recortei” do livro 'The Book of Macrobiotics', de Michio Kushi (um dos livros mais incríveis da macrobiótica) e que, creio, sintetizam perfeitamente um pouco do que acabei de escrever.

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É também com esta intuição baseada na observação da natureza que conseguimos perceber o tipo de movimento que devemos dar ao nosso corpo. Com o Sol a estar mais presente e durante mais horas nos nossos dias, os nossos corpos tornam-se mais despertos. Na prática do yoga, é a oportunidade de nos expandirmos, de nos movermos em sentido ascendente, de trabalhar a nossa força, equilíbrio e vitalidade. É tempo de deixarmos fluir a criança que há em cada um de nós, e eliminar energias estagnadas, através de sequências mais ativas, com torções, posturas de pé e de equilíbrio, bem como posturas de força.

É o momento de recorrermos a pranayamas mais estimulantes – a respiração Kapalabhati (ou respiração do fogo), por exemplo, é excelente, não só pelos efeitos de limpeza que proporciona a nível dos nossos órgãos internos e de oxigenação do cérebro, mas também por ser muito benéfica para todos os que são afetados por alergias sazonais.

A nível da prática física do yoga, nesta altura do ano gosto de começar as minhas práticas em Tadasana (postura da montanha) e daí mover-me para as Saudações ao Sol. Embora pareça (e seja) muito simples e “básica”, a postura da montanha é a base para todas as posturas em pé e há vários pontos a ter em atenção para a praticarmos corretamente, sendo um dos mais importantes o Pada Bandha ("pada" significa pé e "bandha" significa trancar – logo, "trancar os pés", assegurando devidamente os pontos de contacto com o chão).

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Partindo da postura da montanha, começamos as Saudações ao Sol. Podemos escolher uma das sequências de Saudação ao Sol (A, B ou C) ou praticar duas ou todas, repetindo as vezes que acharmos necessárias para providenciar um bom aquecimento ao nosso corpo :) Aqui a escolha pode ser muito pessoal, e depender de fatores como o tempo de que dispomos para a prática, como nos sentimos no momento, que tipo de posturas vamos incorporar na restante sequência… aliás, podemos até fazer uma prática apenas com Saudações ao Sol :)

Todas as posturas em pé e de equilíbrio são bastante benéficas nesta altura do ano, permitindo-nos estar alinhadas com a energia ascendente da natureza –  são disso exemplo Virabhadrasana I, II e II (posturas de guerreiro), Anjaneyasana (“low lunge”) ou High Lunge. As torções têm um excelente efeito desintoxicante, aliviam tensões e ativam a digestão, equilibram o sistema nervoso, massageiam os órgãos abdominais, entre outras tantas razões mais que válidas para que este tipo de postura seja também integrada nas nossas práticas da primavera.

Evoluindo na sequência, podemos por fim incorporar posturas de força, como Bakasana ou Kakasana, Wild Thing, Firefly, etc., que definitivamente ativam e despertam toda a energia que a primavera nos confere.

Aproveitando esta energia ascendente da primavera, este é o momento ideal para nos desafiarmos a ir mais longe nas nossas práticas, a evoluir e a integrar posturas “mais avançadas”. Fica a dica ;)

Boa primavera!

Sara Sá estudou Comunicação Social, mas especializou-se em Relações Públicas e trabalhou 15 anos como tal. A paixão pelo Yoga levou a melhor e, deixando o emprego e vendendo tudo o que tinha, abriu no Porto o MANNA, um espaço onde partilha, com quem por lá passa, a sua filosofia de vida.