Não sei precisar como nem quando (ou sei, mas isso deixo para as minhas sessões de terapia), mas desde que me conheço que sempre associei Beleza a magreza. Em pequena, demorei a perder os refegos que faziam de mim um bebé amoroso e me transformaram numa criança acima do peso. Anos mais tarde, descobri o que eram calorias, que as dietas me podiam fazer emagrecer e, desde então, esse tornou-se o meu estilo de vida.

Hoje em dia, informada sobre todas as construções de padrões de beleza sociais e com muito trabalho de autoconhecimento, dou por mim a continuar a perpetuar um pensamento que não coabita com a mulher em que me quero tornar. Pior: não sou só eu. À minha volta, as minhas amigas mais incríveis sofrem do mesmo.

O controlo dos quilos, a obsessão por formas que vemos só nas páginas do Instagram, a vergonha em exibir partes do corpo que não correspondem 100% às ‘regras’, são poucas as mulheres que conheço que estão à vontade com a sua imagem. Não que tenhamos de adorar todos os nossos pormenores, todos os dias, a todos os momentos, mas caramba, onde foi parar a nossa autoestima? E quando é que nos foi retirada, em primeiro lugar?

#Domingando: a beleza dos elogios
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É a eterna questão do ovo e da galinha – somos nós que criamos e perpetuamos os padrões corporais, e ao mesmo tempo eles entranham-se em nós e passamos a ter de nos policiar. A nós, às nossas amigas, à informação que consumimos, às pessoas que seguimos no Instagram, as modelos que vemos em campanhas e capas de revistas... tudo pode ser um gatilho para que aquela vozinha tóxica comece a ecoar nas nossas cabeças.

E depois, não é como se esta falta de autoestima nos minasse apenas um campo – do trabalho às relações, quando não nos sentimos bem connosco mesmas é praticamente impossível fazer com que o ‘resto’ funcione. Os tempos em que estávamos ‘no nosso melhor’ fisicamente eram tempos assim tão mais felizes? Não estávamos a sofrer de ansiedade ou passámos por um período difícil? Pensem lá bem. Ainda no outro dia lia algo do género, e é mesmo isto: “O teu corpo fez-te sobreviver a uma pandemia mundial e tu estás preocupada com um pneu na barriga?”

Claro que a aceitação que precisamos para interagir em sociedade nos leva a querer encaixar naquilo que é definido como ‘bonito’, mas quando pensamos nas pessoas de quem mais gostamos, duvido que as suas características físicas venham descritas na sua lista de qualidades.

Hoje, independentemente de como o nosso corpo se reflita no espelho, somos versões mais evoluídas, honestas e maduras de nós mesmas. Muito mais do que aquilo com que o nosso corpo se parece, interessa os sítios onde nos leva, as lições que superou connosco, os momentos de extrema felicidade que é capaz de nos proporcionar.

‘Ser feliz’ não é uma imagem estática de uma barriga chapada num biquíni – pode ser também parte dela, claro (afinal, é sempre bom quando o treino mostra resultados), mas não se cinge a um só timing, característica ou produto. São as mil coisas que vamos acrescentando aos nossos dias e que nos permitem mostrar a curva mais bonita delas todas – e aquela que nunca iremos por de dieta: o sorriso.

Do jornalismo à comunicação, é na escrita que Patrícia Domingues espelha a sua natureza curiosa e bem-humorada. Na Miranda, a libriana partilha instantes de um eterno namoro pela Beleza, bem-estar e cosmética.