Nunca me considerei uma pessoa do contra, mas nesta quarentena, enquanto o mundo se dividia entre pessoas que faziam pães e as que se inscreviam em cursos online, eu dediquei-me à vida fit.
Na verdade não me dediquei, iniciei – depois do clássico cliché de múltiplas inscrições falhadas no ginásio (não no sentido do pagamento da mensalidade, mas da frequência) e da falta de ar agravada ao subir uns míseros três degraus de escadas, aproveitei o facto de estar confinada entre quatro paredes – a.k.a. a mim mesma – para me dedicar ao meu corpo e mente.
Na minha cabeça, tinha apenas duas opções: ou me rendia às até então evidências e encomendava todo o tipo de comida online, ou tentava encher o copo a meio e partir para uma tentativa de tirar o melhor de cada situação. Sim, mesmo de uma pandemia.
Não tive muita noção na altura, mas o dia em que descarreguei o Insanity (um programa de vídeos online de exercícios Hiit capazes de fazer transpirar uma pedra da calçada) foi o dia em que fiz uma espécie de acordo de tréguas comigo mesma. Entre a chegada dos 30 anos e uma série de decisões que puseram a minha vida de pernas para o ar, deixar este gap entre mente e corpo parecia cada vez fazer menos sentido.
Não tem só a ver com forma: o exercício faz bem, energiza-nos, concentra-nos e, na forma como o vejo, é sem sombra de dúvidas um ato de amor próprio. De repente, já não me fazia sentido exercitar os músculos da mente e deixar os das pernas balançar – sem exageros, sem pressões, apenas com uma atenção maior ao que como e à forma como me mexo, aumentando a minha saúde e, de arrasto, a auto-estima.
De volta ao Insanity, o programa dura cerca de dois meses e tal foi o meu compromisso que apenas ‘faltei’ uma vez. Posso garantir que, de resto, a minha relação com o exercício não mudou – não me tornei uma daquelas pessoas que fica entusiasmada por mais uma sessão de tortura, perdão, treino, mas fazia-o quase sem pensar. E no final compensa sempre. Primeiro, o sentimento de missão cumprida, de sair da minha zona de conforto, de me desafiar e de saber que estou a cuidar de mim. Depois, claro, os resultados. E não falo só da barriga lisa: o exercício ajuda-me a concentrar-me, a sentir-me melhor comigo mesma e a deixar a ansiedade de lado, nem que seja só naquela meia hora.
Os dois meses de plano já passaram, mas continuo a querer que o exercício faça parte da minha vida. Não são todos os dias que encontro a motivação necessária para o fazer, mas aqueles em que o faço são bem melhores. Sem culpa, sem recriminação, sem sentimentos de falhanço por não estar a cumprir, mas tentando cultivar um estado em que o que penso está em sintonia com o que como e mexo, e tratando-me com o respeito que sempre mereci, mas nem sempre soube. É, tornei-me uma daquelas pessoas que via a correr pelo paredão e invejava. A diferença é que agora sei exatamente o que as faz continuar.
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