Imaginem este cenário: uma menina de 15 anos entra no consultório com queixas de acne e menstruações dolorosas e irregulares. Rapidamente é -lhe prescrita uma pílula anticoncecional, dizendo-lhe que a irá ajudar no equilíbrio hormonal, a regular o seu ciclo menstrual e a melhorar a acne. Enquanto toma a medicação, a pele fica sem acne e os seus períodos regulares e sem dor, pelo que, motivada, irá continuar a tomar a pílula sem pensar duas vezes nos efeitos a longo prazo. Isso é até anos depois, quando ela desejar engravidar.

Noutro caso, uma mulher na casa dos 30 anos, ou no início dos 40, começa a sentir sintomas da perimenopausa, como menstruações irregulares, ondas de calor, suores noturnos e mudanças de humor. Novamente será prescrita uma pílula anticoncecional para aliviar os sintomas, em vez de se tentar perceber qual o desequilíbrio hormonal que possa ser a causa destes sintomas.

As histórias destas mulheres são muito comuns. Afinal, a pílula anticoncecional é tão “normal” que normalmente é chamada simplesmente de “a pílula”. Será assim tão inofensiva? A resposta é não.

Os verdadeiros efeitos da pílula

  1. A pílula e o fígado

Sobrecarregar cronicamente o fígado faz com que ele fique lento e congestionado, aumentando o risco de inflamação, colesterol alto e função imunológica deficiente.

Além disso, quando o fígado não consegue desintoxicar adequadamente, muitas das hormonas voltam para a corrente sanguínea de uma forma mais tóxica, aumentando o risco de cancro de mama, endometriose, síndrome pré-menstrual, seios fibroquísticos, quistos no ovário e cancro endometrial.

  1. Supercrescimento de Candida

A maioria de nós já é portadora do fungo Candida no nosso trato digestivo. Quando estamos de boa saúde, o fungo vive em harmonia com as bactérias boas e patogénicas no nosso intestino. No entanto, quando o nosso ecossistema interno fica desequilibrado, pode levar ao crescimento excessivo de Candida albicans e a todos os sintomas desagradáveis que a acompanham.

Tomar a pílula pode perturbar o seu equilíbrio interno, sendo por isso que as infeções fúngicas são mais comuns em mulheres que tomam a pílula ou outra terapia de reposição hormonal.

  1. Efeitos na tiróide

O estrogénio elevado das pílulas anticoncecionais pode causar sintomas de hipotiroidismo, dificultando a conversão das hormonas tiroideias no fígado. Sintomas como queda de cabelo, aumento de peso e prisão de ventre, podem ser sintomas-alarme de uma baixa atividade da tiróide ou hipotiroidismo.

  1. Risco Cardiovascular

Uma das coisas mais importantes a considerar antes de tomar a pílula é o seu fator de risco para doença cardíaca. A sua idade, peso, e se fuma ou não, podem colocá-la em risco de ter um ataque cardíaco enquanto estiver a tomar a pílula.

O risco de coágulos sanguíneos é a principal razão para o aumento do risco de ataque cardíaco. Um grande estudo recente sobre o risco de ataques cardíacos em mulheres que tomam pílulas anticoncecionais mostra um aumento de 80% no risco para aquelas que tomam pílulas combinadas. Estudos mostram que o risco de ataque cardíaco volta ao normal depois de uma mulher parar de tomar a pílula.

  1. Aumento do risco de cancro

Os estrogénios sintéticos, como os encontrados nas pílulas anticoncecionais, podem aumentar o risco de desenvolver certos tipos de cancro, como o cancro da mama, do útero e do colo do útero. Estudos mostram que mulheres que tomam pílulas anticoncecionais, e mesmo mulheres que pararam de tomar a pílula recentemente, têm um risco 20 a 30% maior de desenvolver cancro da mama do que mulheres que nunca usaram a pílula.

Por que razão a pílula é prescrita para regular o equilíbrio hormonal?

Enquanto algumas mulheres começam a tomar a pílula para evitar a gravidez, outras tomam a pílula para regular o equilíbrio hormonal. Quase 14% das mulheres que tomam a pílula usam-na por outros motivos que não o controle de natalidade.

O ciclo hormonal feminino é tão delicado que simplesmente alterar uma ou duas hormonas com a toma de hormonas sintéticas da pílula pode afetar todo o ciclo. Aumentar os níveis de estrogénio e progesterona do seu corpo suprime a necessidade de liberar as hormonas FSH e LH, fazendo com que toda a sequência de eventos que levam à ovulação seja interrompida.

Tomar a pílula altera os seus níveis fisiológicos de estrogénio e progesterona evitando que o seu corpo passe por uma montanha-russa desconfortável associada aos sintomas da tensão pré-menstrual (TPM), mas também inibem a sua fertilidade.

Na próxima semana concluirei este artigo sobre a pílula e as suas alternativas.

Dra Andreia de Almeida é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrarem o equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. É a autora de Saúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, um livro dedicado à saúde feminina.