Foram cerca de dois meses em casa. Tempos de incerteza e também de novos desafios, onde a saúde ganhou um lugar de destaque. Nunca como hoje sentimos na pele a necessidade de nos privarmos da nossa liberdade individual e colectiva por este bem maior.

É neste sentido que hoje vos falo da ligação entre a vitamina D e alguns tipos de cancro. Uma ligação cada vez mais estudada e onde se vem demonstrando o papel fundamental desta vitamina que no nosso corpo actua, para além de inúmeras funções enzimáticas e de constituição celular, também como uma poderosa hormona que contribui positivamente para o delicado equilíbrio que é a nossa saúde.

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Sabemos por diversos estudos que níveis baixos de vitamina D estão associados a uma maior morbilidade e mortalidade por diversas patologias, mas hoje vamos focar-nos essencialmente na ligação entre esta vitamina e o cancro. Num estudo recente, com mais de 75.000 participantes, verificou-se que a suplementação de vitamina D pode contribuir para uma menor taxa de mortalidade em relação ao grupo padrão, cerca de 16% menos em relação ao cancro. Sabemos também que no nosso corpo a principal fonte desta vitamina resulta da exposição solar. Mas não podemos afirmar que basta a sua suplementação, ou apenas a exposição solar, para podermos beneficiar das vantagens desta vitamina e assim evitar a maioria das doenças, nomeadamente o cancro. Nunca esquecer que a saúde é o somatório de inúmeros factores e não apenas de uma vitamina milagrosa. 

Mas há também evidências e outros estudos que apontam para a importância que o papel da vitamina D tem no surgimento, evolução e progressão de alguns tipos de cancro, especialmente numa fase inicial da doença. Isto deve-se essencialmente à ação da vitamina D como percursor de calcitriol, que tem inúmeras funções espalhadas pelo corpo, regulando diversas funções celulares, e na expressão de diversos genes. É esta ação que parece contribuir positivamente para a preservação da nossa saúde.

Nestes tempos em que uma maioria esteve privada de exposição solar frequente e segura, por estarmos confinados à nossa casa, muitas pessoas perguntam-me se vale a pena tomar suplementos de vitamina D. A minha opinião é que a generalização desta recomendação pode ter riscos, mas ainda assim muito menos, dada toda a envolvente recente.

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Assim, em casos onde vejo que as pessoas não puderam aproveitar com segurança a exposição solar, não praticaram exercício regular ao ar livre e tiveram uma alimentação pouco diversificada, a suplementação deve ser ponderada e por vezes recomendo-a. Mas sendo a vitamina D uma vitamina lipossolúvel, a sua afinidade com gorduras é notória, pelo que devemos apostar também num consumo regular de ácidos gordos essenciais, como omega-3 e omega-6. Estes ácidos gordos, presentes em peixes como a sardinha, a cavala, o salmão e o atum – mas também em frutos secos, como nozes e avelãs – devem por isso ser incentivados. Digo isto pois há evidências de que a associação da vitamina D com ácidos gordos (omega-3 e omega-6) contribui positivamente no equilíbrio da absorção.

O cancro é uma doença muito impactante, e todo um acompanhamento coordenado por um médico oncologista deverá ser sempre assegurado. É ele quem determinará a necessidade! Sendo o apoio nutricional, psicológico e motivacional complementares à evolução.

Procure ajustar o seu estilo de vida, hábitos alimentares e alimentos que escolhe para o seu dia-a-dia. São a base da nossa saúde. Apesar dos tempos que vivemos, começamos agora a poder estar novamente ao ar livre, com maior exposição solar, com as pessoas de que gostamos e a desfrutar de uma alimentação mais saudável e variada. Aproveite esta época para cuidar de si.

Pedro Queiroz é o fundador das Clínicas de Nutrição do Porto e Lisboa e consultor de Nutrição. Mais do que ajudar pessoas a emagrecer, o que realmente gosta é de mudar as suas vidas.