Ao longo da história, as atletas femininas enfrentaram pressões intensas para se conformarem a padrões corporais rígidos, muitas vezes impostos pela sociedade, que ditam como uma mulher deve parecer para ser considerada feminina e atraente. Contudo, com a ascensão de figuras como a norte-americana Simone Biles, ou a brasileira Bia Souza, essa narrativa está a ser radicalmente transformada.

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Simone Biles, com o seu corpo forte e musculado, personifica essa mudança. Durante o seu crescimento, Biles já afirmou em diversas entrevistas que se sentiu muitas vezes desconfortável com a sua aparência física, por esta não corresponder ao padrão típico de feminilidade. Ela era mais forte do que a maioria dos seus colegas, tanto rapazes como raparigas, e escondia os seus músculos para se encaixar. Hoje, Biles não só se tornou na ginasta mais condecorada de todos os tempos, como também simboliza a aceitação e o orgulho pelo corpo musculado e poderoso que lhe permitiu alcançar feitos extraordinários no desporto. A sua presença nos Jogos Olímpicos de Paris, onde conquistou mais medalhas, continua a inspirar uma nova geração de atletas a abraçar as suas diferenças e a redefinir o que significa ser uma mulher forte e bem-sucedida.

Este espírito de redefinição está também presente noutras modalidades. A também atleta norte-americana Ilona Maher, estrela do rubgy olímpico, utilizou as redes sociais para enfrentar críticas sobre a sua aparência física, desafiando aqueles que a consideram "masculina" ou "obesa". Num comentário deixado na sua conta de Tik Tok, Maher respondeu a um seguidor que a acusou de ter um índice de massa corporal (IMC) de 30, seguido de um emoji a rir. O objetivo estava implícito: insinuar que ela era “gorda”.

“Sim, sou considerada acima do peso” – respondeu a atleta – “Mas, infelizmente, eu vou às Olimpíadas e tu não.”

Maher aproveitou o comentário como uma oportunidade para educar o seu público sobre o IMC não ser uma medida precisa de saúde, nem adequado a todos, afirmando que as mulheres podem ser fortes, ocupar espaço e manter a sua feminilidade, sem se conformarem com os padrões de fragilidade que tradicionalmente lhes são impostos. Com os seus 90 quilos e 1.77 m de altura, as duas medidas usadas para calcular o IMC de uma pessoa, Maher afirmou ter um IMC de 30: “Bom, 29.3, para ser mais exata”, revelando que foi “considerada acima do peso a vida toda.”

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Juntamente com muitas outras atletas, Maher está a ajudar a expandir a visão da sociedade sobre o que constitui beleza, força e saúde nas mulheres. "Pensam que as mulheres devem ser frágeis, pequenas, caladas e mansas, mas não é esse o meu caso", afirmou num vídeo. "As mulheres podem ser fortes, podem ter ombros largos, podem ocupar espaço e podem ser grandes. Não deixes que ninguém tente definir ou ditar a forma como te sentes em relação a ti própria. Tu é que decides isso". Maher é conhecida por entrar em campo de batom vermelho, um adereço que ela considera como uma pintura de guerra: "Posso ser uma fera e praticar este desporto muito físico e agressivo, mas também não tenho de sacrificar a minha feminilidade por isso", refere.

Também anteriormente, Serena Williams, tenista e campeã de uns impressionantes 23 títulos de Grand Slam, desempenhou um papel fundamental nesta mudança. Ao longo da sua carreira, Williams enfrentou críticas sobre o seu corpo musculado e a sua estrutura física imponente, características que não se alinhavam com a imagem tradicional de uma tenista feminina. No entanto, ela usou essas mesmas características para dominar o campo de ténis e inspirar milhões de pessoas em todo o mundo. A sua capacidade de combinar força e habilidade continua a desafiar as noções preconcebidas sobre como uma atleta feminina deve ser.

Se há algo que estes Jogos Olímpicos de Paris 2024 mostraram, é a diversidade dos corpos das atletas femininas, provando que no desporto não existe um único "tipo ideal" para o sucesso. Dia após dia, e semana após semana, vimos desde as pequenas ginastas chinesas até à mais alta jogadora de voleibol, passando pela forte jogadora de rugby ou lutadora de boxe, ou ainda pelas nadadoras olímpicas ou pelo levantamento de pesos… todos os corpos são capazes de feitos extraordinários. Esta celebração da diversidade é um lembrete poderoso de que a verdadeira força e beleza vêm de dentro e que cada corpo é único e valioso.

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Nas palavras de Michelle Carter, a primeira mulher americana a ganhar o ouro no lançamento de peso nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, resumem bem esta nova visão: "Queremos que [as atletas femininas] cuidem de si próprias, se sintam no seu melhor, tenham uma alimentação saudável e compreendam que não há problema em ter músculos – porque, em alguns desportos, é preciso ter esses músculos. Não queremos colocá-las numa caixa. Queremos tirá-las da caixa para que possam ser tudo o que podem ser."

E o que foi tão extraordinário nestes Jogos Olímpicos de Paris 2024, é que se revelaram não serem apenas uma celebração do desporto, mas também uma plataforma para a redefinição da imagem corporal feminina. Atletas como Biles, Maher ou Imane Khelif, estão a liderar o caminho, mostrando que a força, o poder e a feminilidade não são mutuamente exclusivos. Ao desafiar os estereótipos e ao abraçar a diversidade corporal, estas atletas estão a abrir caminho para um futuro onde todas as mulheres, independentemente do seu tipo de corpo, podem brilhar e inspirar.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.