não é a primeira vez que abordo por aqui o tema da pobreza menstrual. Mas, mais uma vez, há dados recentes que mostram que esta realidade é cada vez mais visível e é urgente que faça parte da agenda política e social.

Em muitas partes do mundo, a menstruação é ainda envolta em tabus culturais, o que contribui para a falta de consciencialização e recursos disponíveis para lidar com esta questão. As mulheres que vivem em situações de pobreza enfrentam um desafio adicional, já que muitas vezes não conseguem arcar com os custos dos produtos menstruais, como pensos higiénicos, tampões e copos menstruais. Mas engana-se se pensa que essa realidade não existe em Portugal.

Segundo um estudo recente realizado pela Spirituc - Investigação Aplicada sobre a Pobreza Menstrual em Portugal e publicado pelo semanário Expresso, 12% das raparigas entre os 18 e os 24 anos admitem já ter faltado às aulas por falta de capacidade em adquirir produtos de higiene feminina, e que mais de um quinto das jovens já teve de se socorrer de lenços, um segundo par de cuecas, algodão, roupa velha ou meias, por não poder comprar produtos menstruais.

A falta de acesso a produtos de higiene menstrual pode levar a consequências sérias para a saúde das mulheres. A reutilização de materiais inadequados, como trapos ou papel, aumenta o risco de infeções e outras complicações ginecológicas. Além disso, a vergonha associada à pobreza menstrual pode levar as mulheres a isolarem-se socialmente, prejudicando a sua auto-estima e o seu bem-estar emocional.

A pobreza menstrual também impacta a participação das mulheres na educação e no mercado de trabalho. Muitas raparigas, ao enfrentarem a falta de acesso a produtos de higiene menstrual, optam por faltar à escola durante os seus períodos menstruais, o que pode resultar numa lacuna educacional significativa e limitar as suas oportunidades futuras.

No ambiente de trabalho, mulheres que não têm acesso adequado a produtos de higiene menstrual podem enfrentar dificuldades para manter uma produtividade consistente e levar mesmo a situações de discriminação, devido à falta de compreensão sobre esta questão.

Para combater a pobreza menstrual, é essencial adotar abordagens abrangentes, que incluam a consciencialização, a educação e o acesso equitativo a produtos de higiene menstrual. Governos, organizações não governamentais e empresas, têm um papel crucial a desempenhar na promoção de políticas que garantam que todas as mulheres tenham acesso aos recursos necessários para enfrentar a menstruação com dignidade.

#ÀFlorDaPele: a pobreza menstrual existe? Sim, e em Portugal é uma realidade!
créditos: Jonathan Borba / Unsplash

Para combater a pobreza menstrual, e face aos resultados alarmantes do estudo publicado pela Spirituc, a Câmara Municipal de Almada tomou a iniciativa de distribuir pelas escolas do concelho kits de higiene menstrual, com produtos reutilizáveis, compostos por uma bolsa com dois pensos higiénicos reutilizáveis e um copo menstrual. Recentemente distribuídos na Escola Básica da Costa de Caparica a cerca de 40 alunas, o objetivo é levar estes kits até outros agrupamentos — com alunas do 7.º ao 12.º ano — promovendo também “girls talks”, em ambiente mais reservado, para esclarecimento de dúvidas.

Iniciativas que fornecem produtos de higiene menstrual gratuitos ou a preços acessíveis, juntamente com programas educacionais que desestigmatizam a menstruação, são fundamentais. Além disso, a promoção de opções sustentáveis, como copos menstruais reutilizáveis, pode não apenas ajudar economicamente as mulheres, mas também reduzir o impacto ambiental associado aos produtos descartáveis.

A pobreza menstrual é uma questão que transcende fronteiras geográficas e culturais. É um desafio que exige ação coletiva e uma mudança cultural, para garantir que todas as mulheres, independentemente da sua situação financeira, possam enfrentar a menstruação com dignidade, saúde e igualdade.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.