Eu sei, não precisam de me dizer: sobrancelhas finas é tão anos 90. Mas, meus amigos, eu vivi os anos 90 em pleno. Sou do tempo do aparecimento do 'grunge', das camisas à lenhador, de ouvir Nirvana, Soundgarden e Pearl Jam até à exaustão, ou de comprar batatas fritas da Matutano só para saber de que cor eram as argolas de plástico.

Foram tempos estranhos, eu sei, mas vividos com muita intensidade e descoberta. Não havia cá tutoriais do YouTube a ensinar-nos a fazer mil e um penteados, ou a ver que lip gloss ou linha de maquilhagem é que as irmãs Kardashian se lembraram de lançar no mercado. Éramos todas bastante inocentes no que à Beleza dizia respeito, e a maquilhagem cingia-se muitas vezes a um lápis preto nos olhos e rímel.

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Daí a virarmo-nos todas para as nossas sobrancelhas e começar a depilá-las como se não houvesse amanhã, foi um passo. E eu, que era rapariga de fartas e abundantes sobrancelhas – quase monocelha – descobri a pinça e comecei a chacina. Na altura nem a Frida me servia de inspiração, pois só a descobri anos mais tarde, e tinha uma vergonha atroz das minhas sobrancelhas, o que só agravou o problema que se seguiria. Anos a fio de desbaste desenfreado e sem ajuda profissional levaram a que as minhas sobrancelhas se resumam a um fio de pelo que hoje tento disfarçar da melhor maneira que posso, mas sem grande sucesso. Dos meus pelos fortes e abundantes, tenho agora meia dúzia mal semeada, com falhas e zonas onde o pelo já nem cresce.

Numa altura em que as sobrancelhas fartas e abundantes voltam a estar na moda mais do que nunca, eis que dou por mim a sentir-me bastante “datada” e tão 1999, o que, convenhamos, posso ter 41 anos, mas não gosto dessa etiqueta.

A quarentena trouxe consigo o distanciamento social e o confinamento – algo que não foi bom para ninguém – mas que me permitiu tomar a decisão que andei anos a adiar e a achar que não era possível: deixar as minhas sobrancelhas regenerarem-se e o pelo seguir o seu curso. Não foi tomada de livre vontade, não foi algo que um dia eu acordasse e dissesse: “Sim, é isso mesmo, hoje vou deixar crescer os pelos das sobrancelhas e seja o que Deus quiser”, como mais uma das minhas muitas ideias que começo e depois não termino.

Após uma conversa com uma amiga que já teve as sobrancelhas dela no mesmo estado que as minhas. e que hoje possui uma farta, bonita e vasta sobrancelha cheia de bom pelo delineado – que me faz suspirar como objetivo máximo – eis que tomei a decisão de fugir da pinça como o Diabo da cruz e de jurar que não vou arrancar pelo sem ajuda profissional.

Quando dei por mim, já se tinham passado quase dois meses, possuo pelos mal semeados e de forma aleatória um pouco por todo o meu sobrolho, zonas em que nem sequer nascem, e eu sinto-me a desesperar, mas já sei que este será certamente o desafio de uma vida – e não se apaga erros de um dia para o outro, por isso, aguenta e não chora.

Durante este período dei por mim a procurar tudo o que eram soluções, tutoriais e demais mezinhas que ajudassem ao crescimento do pelo. Comprei óleo de rícino – que aplico religiosamente todas as noites antes de me deitar – e testei todas as dicas de ingredientes simples, fazendo as minhas próprias máscaras e pastas, num ato desesperado de ajuda e incentivo ao “crescimento rápido”, mas tenho-me mantido longe da pinça. (hooray to me!)

Durante este tempo fui novamente a um styling de sobrancelhas, que não me retirou os novos pelos nascidos, mas que me disse o que ainda me falta preencher – e eu senti-me a morrer um bocadinho por dentro e a desmotivar perante a hercúlea tarefa que ainda me espera.

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Uma coisa é certa: vou tentar tudo o que estiver ao meu alcance para conseguir voltar a fortalecer o meu pelo sem ter de recorrer a técnicas de microblading que, acho, deixam sempre o rosto com um aspeto artificial – mesmo quando dizem que o resultado é super natural. Quero ter o meu pelo de volta, não a cara pigmentada por algo que é para sempre. Tatuagem fiz eu no braço quando fiz 40 anos e até essa já está a dar sinais de desgaste.

Entretanto, também me apercebi que este é um problema comum a muita mulher, principalmente as da minha idade ou mais velhas. Mulheres que pegaram na pinça e levaram tudo à frente, que tanto tiraram e que hoje não têm sobrancelhas – ou que as têm fragilizadas, fracas, com grandes falhas e totalmente assimétricas. Amigas, estamos juntas, mas vamos conseguir dar a volta a isto!

Penso que o ideal é ter alguém que nos aconselhe e que acompanhe todo o processo. Ter um bom profissional é fundamental e essa parte, reconheço, tem-me falhado. Sei que ainda estou agora no início e que a meia dúzia de pelos mal semeados que nasceram durante estes últimos dois meses não são a prova de que consiga dar a volta a isto, mas são, pelo menos, um sinal de esperança!

Entretanto, o lápis e a sombra vão-me ajudando a disfarçar anos de um crasso erro de Beleza e a resistir com foco numas abundantes e fartas sobrancelhas. Tenho exemplos de quem conseguiu, eu também lá chegarei. Prometo que quando acontecer – mesmo que seja daqui a um ou dois anos – falarei sobre o assunto aqui. E mostro-vos a foto do DEPOIS. Por enquanto, fiquem com a do ANTES, e se me encontrarem na rua e virem que tenho as sobrancelhas cheias de pelos espalhados um pouco por todo o lado, lembrem-se que é sinal de que estou a ganhar esta batalha.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo já passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.