Não sei se é mais difícil para mim, se para ela. Mas a verdade é que estamos as duas a passar por um processo de adaptação a este período: ela a crescer e a afirmar-se perante o mundo – física e mentalmente – e eu a adaptar-me ao sentimento de que já não tenho em casa uma bebé, nem tão pouco uma menina, tenho uma adolescente com pouca paciência para tudo e a dar visíveis sinais de transformação física.
Entre o nascer da rapariga que se afirma e a libertação da criança que vai deixando para trás, há todo um processo que requer uma boa dose de paciência e de educação. Sentir-lhe o pulso, estar atenta e, acima de tudo, tentar – entre o drama e a explosão hormonal em que geralmente altera – chegar até ela de forma a poder ajudá-la, é um caminho que nem sempre é fácil.
Todos já passámos por isso, todos já tivemos aquela idade – embora não nos lembremos, ou tenhamos dificuldades em aceitar – e todos sabemos como só queríamos crescer, ser adultos, ter voz, viver apenas no nosso mundo com os amigos (nesse lugar mágico onde pais não entram), fazer o que nos desse na real gana, ter experiências, sentir, sentir, sentir e, claro, ser aceites.
Por isso, apesar de me deixar variadíssimas vezes com os nervos em franja, tento respirar fundo e repetir a mim mesma: “É apenas uma fase. Vai passar.” Mas a verdade é que está começar, pelo que mais vale aceitar que a partir de agora terei de dividir a casa de banho e o espelho com ela na hora de me arranjar para sair de casa, ou que ela vai fazer todo um drama por não ter “nada para vestir”, vai querer maquilhar-se, arranjar e pintar as unhas, ou ainda começar a marcar-lhe depilação. Tudo isso seria normal se ela tivesse 14 ou 15 anos, mas a minha pré-adolescente ainda tem 11, a caminho dos 12, só que os sinais que identificam esta nova etapa da vida estão lá todos, recordando-me que, até nisto de “ser adolescente” esta nova geração começa uns anos anteriores à minha.
Lembro-me que quando tinha uns 13 anos a minha mãe me comprou um livro que foi precioso para entender toda esta nova fase em que me encontrava, sem ter de lhe fazer perguntas mais incómodas e diretas sobre crescimento, transformação do corpo, alterações fisiológicas, vida social, educação sexual, ou contraceção. Chamava-se “O Guia da Rapariga”, da médica Miriam Stoppard, e era do Círculo de Leitores.
O livro da Dra. Miriam – vim a descobrir, anos mais tarde, que era uma médica mundialmente conhecida e uma das mais requisitadas em termos de saúde familiar do Reino Unido – foi importantíssimo para perceber o que estava a acontecer comigo e com o meu corpo, e como era suposto as coisas acontecerem. Foi um guia muito útil, numa altura em que não havia internet e a informação sobre estes temas era escassa ou quase nula. (Só anos mais tarde começaram a aparecer as revistas destinadas a um target mais juvenil, que abordavam estas temáticas).
Hoje em dia não sou ingénua ao ponto de imaginar que a minha filha não procura saber aquilo que lhe interessa online, mas continuo a achar que é importante, nesta fase da sua vida, que a mãe a oriente em algumas questões estruturais. A questão é: como fazê-lo de forma a que ela me deixe sem se sentir melindrada? Ela sente-se invadida na sua integridade física por ser tema de assunto, e eu sinto-me perdida por não saber como abordá-la e lhe fazer chegar a mensagem, para rapidamente ficar desconcertada com fotos que vejo dela em jeito de Lolita. Por acaso a Dra. Miriam Stoppard não terá escrito um “Guia para Mães de Adolescentes”? Se ainda não o fez, fica a dica, aposto que será um best-seller.
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