Não há truques de beleza que me valham. Não me maquilho todos os dias, como é meu hábito, mas nem mesmo com a pele a “respirar” da rotina de maquilhagem diária fico com melhor ar. Tenho umas olheiras gigantes que me chegam quase a meio do rosto, e sempre que recebo videochamadas alterno entre uns segundos de pânico por estar numa mísera figura e um encolher de ombros – ao mais puro estilo “que se lixe, já estou por tudo”.

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Para lidar com o stress e com o confinamento, descobri que até me safo a fazer algumas coisas bem feitas: pode acabar o mundo, que a malta cá de casa não fica sem pão fresco, ou croissants, ou bolo de chocolate, ou panquecas... ou, basicamente, tudo aquilo que me permita abstrair e ver resultados práticos e imediatos – saborosos, de preferência – e que me façam sentir orgulhosa de mim mesma, já que tudo o resto parece desabar. Que o diga o meu rabo – que, por estes dias, se não aumenta de tamanho à conta da quantidade de comida que tenho ingerido e do pouco ou nenhum exercício que tenho feito – sairá desta quarentena orgulhoso do seu vasto tamanho, redondo que nem um pêssego de verão… ou, então, quadrado! Quadrado, das horas que levo sentada, numa contagem interminável de dias que se sucedem ao mesmo sabor e ritmo, onde o meu único escape é deitar a cabeça fora da janela e recriminar mentalmente as pessoas que insistem em andar na rua.

Não são dias fáceis, estes.

Nas trocas de mensagens de WhatsApp com as amigas, todas se queixam das unhas de gel que saltam e que estão num estado miserável. Eu olho para as minhas, ainda tão compostas e apresentáveis – já com três semanas e meia de gelinho – e sei que o meu dia também há-de chegar. Mas, por enquanto, agradeço aos céus a minha manicure e abençoada Carina, e penso que por estes dias ela deve estar a passar um mau bocado – tal como todos nós. Mas ela ainda mais, pois com o seu pequeno negócio de unhas fechado, duas semanas a um mês sem entrar dinheiro é um duro golpe para conseguir recuperar. Continuo a inspecionar a cara ao espelho e vejo as sobrancelhas a precisarem de ser alinhadas, e a pinça ali ao lado a pedir que pegue nela, o buço que teima em crescer e o creme depilatório na gaveta prestes a entrar em ação, os brancos que insistem em aparecer e a tinta que por sorte tinha no armário e que me vai salvar as raízes.

Dou por mim a testar a máscara de clara de ovo da Izabel de Paula – que diz ser rica em colagénio – e que uma mulher acima dos 40, como eu, precisa de tudo o que a ajude a lutar contra a gravidade. E dou por mim a procurar a máquina depiladora e as bandas de cera porque, convenhamos, podemos estar de quarentena mas não quero sair dela a parecer a mulher das cavernas.

Neste dias de privação daquilo que dávamos por adquirido, de tão banal se tornou e que hoje lhe sentimos a falta em todo o esplendor – seja uma simples ida à manicure, ou ao cabeleireiro para tinta e corte – a verdade é que conseguimos superá-los e encontrar alternativas caseiras que nos permitem manter o mínimo de dignidade estética neste período de confinamento.

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Mas façam um favor a vós próprias e à nossa economia: quando tudo voltar ao normal – porque há-de voltar – continuem a alimentar estes pequenos negócios, a permitir criar emprego, a impulsionar estas pessoas, muitas delas com micro-empresas próprias que são a sua única forma de subsistência e que vão sentir este momento de quarentena de forma muito intensa e crítica. Se vos for possível, mesmo não indo arranjar as unhas ou fazer as sobrancelhas ou depilação, continuem a depositar o valor do serviço nas vossas esteticistas ou cabeleireiras como se o tivessem feito. Eu sei que pode parecer surreal o que peço. Mas quem puder, é uma forma de ajudar quem neste momento tem as portas fechadas e não se encontra a lucrar. Pode fazer a diferença.

Porque eu quero acreditar que estes dias surreais que vivemos, fechadas em casa e onde vemos o mundo, os amigos e a família por um ecrã, ainda há um sentimento maior que tudo isto que continua a mover o mundo e que nos une: o amor. Sejamos assim demonstrações de amor, num propósito maior de solidariedade, onde os pequenos gestos contam e onde nos salvamos a nós mesmas e aos outros. Seja no pedaço de pão que fazemos e partilhamos, ou no depósito de 15 euros que colocamos na conta de outra pessoa e que lhe permitirá ter, também ela, pão na mesa.

E que a Força esteja connosco!

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo já passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.