Podemos passar uma vida inteira a tentar descobrir qual o tipo de alimentação que melhor se adequa às nossas necessidades. Ou então isso nunca vai ser um assunto a ser posto em cima da mesa: come-se o que se gosta, o que é saboroso, o que sempre se conheceu e que nos conforta desde crianças.

No meu caso, sempre me questionei obsessivamente sobre cada acção da minha vida, por mais mundana que fosse e no campo da alimentação as minhas questões que se podiam justificar ser de ordem ética, eram na verdade meramente estéticas.
Quando era adolescente, quando o meu maior fascínio eram Hollywood e o star system, era frequente ler artigos sobre celebridades que adoptaram o vegetarianismo e até de personalidades históricas que o tinham sido. Comum a todas elas era o facto de parecerem bastante mais jovens do que a idade que tinham e só isto, per se, já era um argumento bastante atractivo para me converter.

Associado à jovialidade estava também o factor saúde e longevidade

E alguém como eu, obcecado que estava em ter uma carreira no métier das artes do espectáculo, tinha de colocar o vegetarianismo na minha lista de to do’s para ter a melhor aparência possível, condição mais que fulcral nesta profissão da fama.
O primeiro contacto que tive com esta dieta foi quando comecei a praticar yoga. Ao contrário do que se pensa, quando se juntam yogis e vegetarianos não significa que estejam a praticar uma seita. Tal como em todo o tipo de actividade física, existe sempre uma alimentação que permite alcançar melhores resultados. E no caso do yoga, é o vegetarianismo.
Bastou ter passado um fim-de-semana inteiro a comer refeições dignamente saborosas (o factor sabor fez a diferença) e sem qualquer tipo de carnes para ter ficado rendido. Tinha 18 anos e rapidamente passei de “peixetariano” a vegetariano puro, tendo depois passado por várias fases. Na primeira, tornei-me muito purista. Comia apenas quando tinha fome, procurava não misturar hidratos, bebia fora das refeições e fruta só antes de refeição.
Foi uma fase de aprendizagem onde ganhei um maior contacto com o meu corpo em termos de digestão e de conhecimento dos alimentos. Emagreci bastante o que no meu caso não me deixava muito alegre. Como reacção a isto, na fase seguinte, passei a comer tudo o que me apetecia (continuando a não ingerir carnes).
O que pode ser caricato é o facto de nesta fase (a maior de todas) ter-me descurado de comer saladas e fruta. Situação pouco ortodoxa na vida de um vegetariano, certo? Talvez por querer concentrar-me em alimentos que me engordassem ou até mesmo para contrariar a opinião formada de que vegetarianos só comem saladas.
Muitas foram as vezes que me puseram à frente um prato com folhas de alface, rodelas de tomate e dois espargos cruzados. Sim, aqueles espargos brancos enlatados que não sabem a nada. Só aquele emoji com a mão a tapar a cara para descrever o que sentia nestes momentos!
Um vegetariano come tudo o que todos comem: Risotto, pasta, lasanha, sushi, noodles, feijoada, o típico arroz de tomate com peixinhos da horta, açorda...tudo e mais alguma coisa, não tendo referido deliciosas sobremesas, pois que dessa maneira ficaria aqui uma eternidade a enumerá-las todas. Esta fase foi muito longa e deu para ganhar peso, perdê-lo e ganhá-lo de novo.

A fase seguinte

É muito recente e começou há uns 3 anos, quando ouvi a Mariana Pessanha a falar sobre alimentação integral e de como é importante ingerirmos produtos o mais próximos do seu estado natural, não processados, sem açúcares e por isso até muito mais nutritivos e saciantes. Esta é uma alimentação que até um não-vegetariano pode seguir.
Depois dela, aprendi muito mais com a Teresa Alves Barata (Liquid) e os sumos verdes que a mesma me ensinou a fazer. Foram a melhor invenção de sempre para me obrigar comer vegetais. Passei a integrá-los na alimentação, tendo sempre um jarro deste tipo de sumo no frigorífico pronto a beber. E sempre que vou ao supermercado, penso no que devo comprar para fazer um diferente do anterior.
Foi nesta senda da descoberta de novos bares de sumos verdes que uma vez conheci um rapaz que me confidenciou ser crudívoro e que nunca mais precisou de usar protector solar, porque a pele se adaptava muito rapidamente e bronzeava. Disse rapaz, mas ele parecia um adolescente e na verdade já era um homem. Só isto diz tudo o que se pode dizer sobre ser-se crudivoro, não?

Percebi de facto de como é importante passar a integrar mais alimentos crus na minha dieta, e muitas das refeições que tomo (sobretudo os jantares) já são quase cruas na totalidade. Se me vou tornar 100% crudívoro não sei, mas a ideia agrada-me e tenho sentido uma grande diferença na pele, que está mais suave, mais fina e com menos imperfeições.

Com o tempo tenho descoberto o que me faz bem, vou introduzindo novos hábitos, novos alimentos e novas receitas. A maior satisfação de ser vegetariano é o incremento de saúde que me dá, é a digestão fácil, sinto-me leve e bem-disposto e olhando para o futuro sei que estou a evitar doenças cardiovasculares, entre outras.

A alimentação, a par do exercício físico, tem sido, para mim, um dos trunfos para um envelhecimento com qualidade

Mas cada pessoa é um caso e como referi no início, pode-se levar toda uma vida a concluir qual o melhor tipo de alimentação para si mesmo. Não quero de maneira alguma interferir na alimentação de alguém, até porque tenho a teoria de que a vida alimentar é como a vida sexual: é do foro pessoal. E tal como não pergunto a qualquer pessoa o que gosta de fazer na cama e quantas vezes o faz por semana, também não pergunto o que gosta de comer. Essas coisas partilham-se espontaneamente numa conversa com alguém que se tornou íntimo.

E se não gostamos de comer o mesmo, está tudo bem na mesma. Mas se a quiser levar a jantar fora, primeiro vou informar-me melhor para poder dar-lhe a melhor refeição da vida dela. Por isso, não perguntem a um vegetariano onde vai buscar a proteína e a vitamina B12 nem precisam entrar no campo da ética e justificar porque ainda comem carne ou porque o devemos fazer.

#ÁguaPelaBarba: quando a (pele) seca chega aos pés
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A minha lista de restaurantes preferidos é...

Se quiserem saber, e se quiserem levar-me a jantar fora, prefiro restaurantes não-vegetarianos, onde não se come tofu, seitan e soja, onde a decoração não é tendencialmente oriental e onde provavelmente não se vai encontrar gente que acha que cuidar da imagem é ser-se escravo do “sistema”. Esta é a minha lista dos 5 restaurantes não-vegetarianos que mais gosto de frequentar, em Lisboa:

  • PHO PU Este Restaurante vietnamita na Mouraria, é procurado pela típica e tradicional sopa PHO, mas tem as melhores gyosas vegetarianas fritas da cidade. Parecem feitas na hora de tão frescos que os legumes são. Muitas vezes vou lá almoçar por 5€. Peço só este prato e uma garrafa de água. Se for sozinho não estranhe de ser convidado a juntar-se a uma mesa com outros comensais.
  • DUPLEX Na primeira vez que lá fui, tudo foi um feliz regalo. Cada prato que me era posto à frente superava o anterior. Adorei a polenta frita, o caril de legumes e até o couvert marcou a diferença. Costuma estar aberto até às 2 da manhã e fica.
  • SALSA e COENTROS A comida alentejana é a minha favorita da gastronomia portuguesa. Aqui há cogumelos de coentrada, pimentos com coentros, favinhas de coentrada, migas de batatas e ovo, espargos com ovos, empada de legumes e queijos de detrás da orelha. Não preciso dizer mais nada, certo?
  • DELI DELUXE É um dos meus lugares preferidos para um brunch, talvez por adorar esta refeição e porque este foi dos primeiros sítios a tê-lo na carta. Mas alem do brunch podem-se comer óptimas massas e uma focaccia maravilhosa.
  • TARTINE De segunda a sexta oferece um menu executivo onde tem sempre opção vegetariana. Já lá comi óptimos risottos e ao fim-de-semana peço sempre o mesmo: ovos quentes com torradas, a granola com iogurte e mel e um café no fim.

Bruno Reis, colaborador da Miranda, é o fundador e director criativo da Teeorema, marca de luxo de t-shirts.