O jejum intermitente é a nova moda das dietas, mas será que este princípio alimentar pode mesmo aumentar a longevidade? Será que a privação de alimento pode dar mais anos à nossa vida? Cada vez mais estudada - e cada vez mais aceite pela comunidade científica -, a privação controlada de alimentos induz nas nossas células uma alteração das fontes energéticas que utilizam e parecem promover e ter até a capacidade de aumentar a sua durabilidade. Mas existem riscos. E muitos, pelo que nunca deve pôr em prática este tipo de alteração sem ajuda, orientação e supervisão do seu nutricionista.
Uma vida saudável e longa depende sempre da qualidade da nossa alimentação e estilo de vida que escolhemos, não apenas de uma simples prática alimentar. Há que esclarecer! De nada serve adoptar este tipo de regime sem primeiro assegurar que estamos de boa saúde e cumprimos estas regras base. Pode ser perigoso e agravar de forma definitiva a nossa saúde e o objectivo inicial. Mas aqueles que têm bons hábitos alimentares, um estilo de vida saudável, que variam os alimentos, ajustam quantidades e fazem as melhores combinações alimentares, incluir periodicamente o princípio do jejum intermitente parece funcionar.
Teorias e conclusões
Foi uma publicação na revista Cell Magazine, publicada em Outubro de 2017, segundo um estudo realizado por uma equipa da Universidade de Harvard que relançou um tema desvendado originalmente em 1935 por McCay e sua equipa. A restrição calórica aumenta a longevidade! Mas como fazer? Reduzir apenas a ingestão alimentar, alternar dias normais com dias de limitação alimentar, estar 12h ou 16h sem ingerir nenhum alimento?
As teorias são várias e o que está comprovado é que períodos de jejum obrigam as mitocôndrias das nossas células a encontrar outras formas de utilizar energia “obrigando-as” a serem metabolicamente mais eficientes. Este ajuste ou modulação genética, também chamado de epigenética, induz a utilização selectiva da energia tornando as nossas células mais duradouras e especializadas em poupança energética. É este processo de gestão de gasto energético que permite a ganho em longevidade.
Então, como e quando fazer o jejum intermitente
Introduzir o princípio de jejum intermitente não deve ser feito de forma aleatória. Deve ser integrado no seu estilo de vida e tipo de alimentação para nunca provocar danos na saúde. Consulte sempre o seu nutricionista primeiro. Há colegas que defendem uma abordagem inicial de 3-4 dias seguidos, onde a ingestão alimentar seja restrita na refeição do jantar para iniciar este processo de modelação mitocondrial e induzir um processo de cetose no nosso corpo. É necessário um período mínimo de 12h para que se iniciem as alterações desejadas, havendo quem defenda 16h. Diversos estudos apontam também que, para funcionar, o jejum intermitente terá de restringir entre 20-40% da ingestão calórica. E outros ainda que dizem que acima de restrição de 60% existirá um défice muito acentuado de saúde ao invés de promover a longevidade.
Há uma linha muito ténue entre o que parece ser benéfico e o que pode prejudicar gravemente a sua saúde.
Há que ter em conta também que eliminar pura e simplesmente calorias pode não ser suficiente pois, à medida que se estuda este tema, cresce a certeza que seleccionar o tipo de fontes energéticas a cortar e não cortar livremente todos os alimentos é o caminho. Os hidratos são geralmente aceites como os primeiros a reduzir e seleccionar, mas também o ajuste no teor de proteínas parece ser fundamental. Especialmente certo tipo de aminoácidos. Mas deixaremos este ponto para o seu nutricionista a ajudar a encontrar o equilíbrio.
Procure o equilíbrio
Como em todas as abordagens procure o equilíbrio. Seja sensível a fazer pequenos ajustes e de forma gradual, sempre vigiados e com parâmetros de saúde em constante monitorização para que as mudanças lhe permitam viver mais anos e com mais saúde. Importa referir que estes estudos evidenciam que a redução calórica está muitas vezes associada a perdas de vitaminas e minerais pelo que há que equilibrar mesmo a alimentação e por vezes associar suplementação.
A longevidade é, sem dúvida, um tema de interesse e cada vez mais estudado. O jejum intermitente parece fazer parte desse caminho mas não esqueça de que de nada serve o jejum se não tivermos uma saúde boa, um bom equilíbrio alimentar e um estilo de vida compatível. Há diversas técnicas para fazer activar estes mecanismo metabólicos desencadeados pelo jejum intermitente e várias opções para que se tornem efectivos mas há que ser ajustado a si, à fase da vida e nível de saúde. Só assim vai viver mais anos e saudável.
Pedro Queiroz é o fundador das Clínicas de Nutrição do Porto e Lisboa e consultor de Nutrição. Mais do que ajudar pessoas a emagrecer o que realmente gosta é de mudar as suas vidas.
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