Sempre soubeste que querias ser professora de yoga?

Cristina Dionísio (C.D.): Nunca imaginei que este fosse o rumo da minha vida. Comecei a praticar yoga há 16 anos, quando a minha asma começou a piorar. Estava a ficar dependente de tratamentos de cortisona e antibióticos. Nessa altura ainda estava a trabalhar como executiva numa multinacional. Um amigo levou-me à aula de outro amigo, que tinha acabado de fazer o curso de professor de yoga. Éramos cinco curiosos do yoga e todos tínhamos alguma limitação física ou emocional, como problemas de asma, de coluna ou ansiedade.

Reaprendi a respirar e, por sugestão do meu professor, fiz algumas alterações na minha alimentação. Com o passar do tempo, deixei de precisar de cortisona e de usar tantas vezes a bomba da asma. Quando acabava uma aula, sentia-me leve e em paz, como se deixasse para trás algum do peso que trazia sobre os ombros.

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Comida saudável: granola caseira, lascas de coco e framboesas.

És Portuguesa, mas nasceste em Moçambique...

C.D.: Sim, vim para Portugal aos quatro anos e foi onde cresci, mas sempre achei importante voltar às minhas raizes. Por isso, em 2019, quando recebi a proposta de um projeto profissional em Moçambique, aceitei-a imediatamente.

Quando já estava a viver em Maputo, consegui ter aulas com uma conceituada guru do yoga, a professora coreana Yumi. Aprendi muito com ela, mas quando ela foi de férias não tive alternativa senão praticar sozinha, em casa. Foi nesta altura que percebi que precisava, e queria mesmo, aprofundar os meus conhecimentos de yoga.

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A praticar yoga, sozinha durante o confinamento.

Fizeste o curso de professora na Índia?

C.D.: Sim. Já lá tinha estado em férias e para mim fazia todo o sentido voltar e fazer o curso neste país onde a prática nasceu. Assim, vim no início do ano para Goa, onde fiz o Yoga Teaching Training em Vinyasa e Ashtanga. Sou professora de yoga certificada pela Yoga Alliance.

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Como foi o curso de professora de yoga?

C.D.: Muito intenso. Em vários aspetos, tanto físicos como emocionais. São 200 horas de treino em 25 dias, com um dia de folga por semana. Duas práticas diárias, aulas de filosofia, meditação, anatomia, como ensinar, workshops, Satsangas (o encontro com o ‘eu’), música, silêncio, conversas...

Acaba por acontecer muita coisa no corpo e na mente. Vivemos intensamente os dias. Ficamos próximos e o espírito de entreajuda é enorme. Há uma enorme sensação de pertença. Não se olha as diferenças como a idade ou o género. Sentimo-nos todos iguais, porque estamos a crescer emocional e espiritualmente. É daquelas experiências que vão além de um curso de professora. É um curso de vida.

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Índia, início das aulas ao nascer do sol.

Começaste logo a dar aulas?

C.D.: Quando voltei a Moçambique para recomeçar o meu trabalho, deu-se o 'lockdown'. Muitas empresas pararam a sua atividade, eu fiquei sem trabalho, e a minha professora coreana fechou o estúdio. Tive então o contato de várias pessoas que me pediam aulas de Yoga ao ar livre ou online.

Entretanto, esta experiência temporária já se prolongou por sete meses. Agora, mais do que nunca, sei que quero ensinar a prática de yoga. O que mais me preenche a alma é ver a expressão de paz nos rostos dos meus alunos depois do Savasana, a última postura de repouso de uma prática de yoga.

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As aulas num pateo, ao ar livre, em Maputo.

Agora vieste para Portugal...

C.D.: Consegui vir a Lisboa em agosto e fico até ao final de outubro. Vim ver a minha família e amigos, e também para conhecer pessoalmente os meus alunos das aulas online, residentes em Portugal. Além disso, estou a desenvolver um novo programa, para já presencial, dirigido às mulheres que foram mães recentemente.

Yoga
A aula no Jardim da Estrela.

Qual é o estilo de yoga que ensinas?

C.D.: vários tipos de yoga. No entanto, o Hatha é a base de todos. Quando ensino, gosto mais de Vinyasa porque estimula a minha criatividade, tanto na preparação como na execução das aulas.

Vou introduzindo algumas posturas de permanência mais típicas das práticas de Hatha e faço algumas aulas de Vinyasa inspiradas no Ashtanga. Sinto que, para quem começou a sua prática de yoga há pouco tempo, esta é a forma mais estimulante.

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Esta postura (downward facing dog) é indispensável para todos os níveis de experiência. Foto de: Bierniss dos Santos Castelo Branco

Há quem ache o Yoga uma prática demasiado exigente...

C.D.: Sim, e também há quem o ache pouco desafiante. Além dos vários tipos de yoga, um mesmo tipo ainda pode ser adaptado às diferentes capacidades físicas dos alunos. E uma mesma postura permite variações de acordo com a experiência de cada aluno. O que importa é que cada um aprenda a escutar o seu corpo e a respeitar os seus limites.

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A postura triângulo extenso, numa aula ao ar livre. Foto: @vascopassanha

Como funcionam as tuas aulas?

C.D.: Estou a dar aulas de 75 minutos online e também presenciais, ao ar livre, com um número limitado de pessoas. Para participar, há várias opções: aulas avulsas, pacotes de cinco e 10 aulas, e um passe livre mensal, que dá tanto para as aulas presenciais como para as online. Para quem só está interessado nas aulas online, há ainda um passe especial.

Contatos e como marcar

As aulas online  têm um valor inferior às presenciais e os interessados têm de se inscrever no site da Cristina Dionísio para receber o link para cada aula. A inscrição é igual para as aulas presencias, neste caso para garantir que não se ultrapasse o limite de pessoas imposto por lei.
As marcações podem ser feitas através do site, por email ou WhatsApp. E, consoante o público, as aulas são dadas em inglês ou em português.

Qual é o objetivo das tuas aulas de yoga e o que visas transmitir aos teus alunos?

C.D.: O objetivo é trabalhar o corpo, bem como a mente e a alma. Quero ajudar os alunos a conectarem-se novamente com o seu corpo e com a sua respiração. A encontrarem tranquilidade no momento presente e levarem este estado de espírito para o seu dia-a-dia.