Do alto dos meus 42 anos, orgulho-me de dizer que nenhuma agulha de botox ou outra substância qualquer entrou neste rosto. Mas, nos tempos que correm, será realmente motivo de orgulho afirmá-lo? Ou apenas estupidez? Porque a sensação que tenho, para onde quer que olhe, é que o uso de botox – toxina botulínica – que age no músculo de modo a diminuir ou a eliminar os impulsos que o acionam, preenchendo as suas falhas, é algo normal. Tão normal que há cada vez mais jovens a recorrer a ele. Mulheres com menos de 30 anos que o utilizam para eliminar qualquer característica com a qual não estão satisfeitas no seu rosto, por mais insignificante que a mesma seja.

A moda do botox estendeu-se das figuras públicas às influenciadoras e agora é prática comum muitas delas gravarem e publicarem os seus tratamentos gratuitos em clínicas, fazendo do uso generalizado de botox uma tentação ao alcance do comum dos mortais, normalizando e banalizando a sua utilização.

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E a verdade é que qualquer um é livre de fazer o que quiser e bem entender, se isso o faz sentir melhor, mas eu não consigo deixar de sentir um pouco toda esta ‘tendência’ como uma imposição. A imposição de que a mulher tem de eliminar todo e qualquer sinal de envelhecimento, que temos de pintar os cabelos, de colocar botox perante a primeira ruga de expressão, de adiar o mais possível – começando cada vez mais cedo – a ideia de que, ao assumirmos os sinais da passagem do tempo nas nossas vidas, rosto e corpo, ficamos datados, sinónimo de algo que já passou de validade e que não aporta valor.

Não está já na hora de desconstruirmos este conceito? Sempre gostei de me cuidar, assumo isso com a maior franqueza, mas custa-me aceitar que ao cuidarmos de nós o façamos para esconder que o tempo passa por nós, muitas vezes deformando-nos e alterando-nos a expressão. Que vergonha é esta, generalizada, em assumir a idade que se tem, principalmente quando se é mulher?

A ideia de que o envelhecimento é mais benéfico com os homens do que com as mulheres é algo que está estabelecido na nossa sociedade e cultura há muito tempo, por isso, nós, mulheres, temos de fazer o impossível para que a Beleza se esgote o mais tardiamente, sujeitando-nos a tratamento invasivos e a todo o tipo de artifícios que nos façam acreditar que continuamos jovens e belas.

E eu, que sou apologista da autenticidade, mas também do amor próprio, fico indecisa entre o que pensar desta nova demanda da utilização generalizada do botox, mesmo em idades cada vez mais jovens: será amor próprio ou falta dele? Será o botox o caminho mais fácil para colmatar inseguranças?

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Não vou ser hipócrita e dizer que não há dias em que vejo o meu rosto ao espelho e só consigo reparar nas olheiras profundas que insistem em não desaparecer, na flacidez da pele a instalar-se, na tez mais baça ou nas rídulas que marcam presença. Há fotos de que gosto só porque estou de óculos de sol e não se vê as rugas em torno dos olhos quando sorrio, ou o bigode chinês – nome que é dado ao sulco nasogeniano, a linha que se forma do nariz ao canto da boca e que começa a ficar cada vez mais demarcada – e sinta que não me reconheço. É duro, custa.

Mas, por outro lado, gosto tanto de ter esta idade e de ter toda uma história de vida que me acompanha, que não faz sentido, pelo menos para mim e pelo menos por enquanto, sujeitar-me a algo que considero invasivo. As minhas rugas contam uma história. Todas elas, seja de alegria ou de tristeza, estão aqui, neste rosto, porque vivi. O que não invalida que não o besunte com os melhores cremes, ampolas, máscaras faciais, frequente spas, faça massagens faciais, utilize quartzo rosa e rolo, ou me maquilhe.

Para mim, por enquanto, faz mais sentido ser autêntica e mostrar beleza com isso, do que preencher por dentro aquilo que eventualmente me falta na alma. Não sei se é uma verdade para a vida ou estupidez, mas comigo resulta. E neste momento, só isso me importa.

Mafalda Santos  fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.

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