É provável que quando este texto estiver a ser publicado, eu esteja despida da cintura para cima e a ser observada por um médico. São exames de rotina, mas todos os anos vou apreensiva e com receio de que encontrem algo que abale os meus alicerces. Ecografia pélvica, ginecológica, imagiologia mamária, análises, um sem-fim de exames que me levarão toda uma manhã, mas que todos os anos – principalmente depois de já ter feito os 40 – sei que tenho e devo fazer. Se gosto? Não. Se são necessários e preventivos? Muito!

Todos os anos fico nervosa e expectante, e todos os anos suspiro de alívio quando oiço do outro lado: “Está tudo bem”. Este ano, e à hora a que estiver a ler este texto, ainda não saberei.

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A verdade é que nem todas as mulheres suspiram de alívio na hora de receber um diagnóstico, e há cada vez mais mulheres jovens a serem impactadas com um resultado positivo em idades cada vez mais precoces. Mulheres de idades abaixo dos 50 e dos 40 anos, com aparecimento de tumores mamários cada vez mais agressivos, que estão longe de imaginar que o diagnóstico de cancro pode pesar e impactar as suas vidas.

O estilo de vida pode ser um dos principais fatores e ter uma correlação direta – stress, alimentação, consumo de álcool, tabaco, poluição ambiental – mas também fatores genéticos, que se sabe e estão cientificamente comprovados serem potenciadores, aumentando as probabilidades de desenvolver a doença. E é por isso que a prevenção, as mensagens de sensibilização, o ensinamento de deteção de sinais, a apalpação da mama, é tudo tão importante e necessário. Ninguém está livre de um diagnóstico positivo. Ninguém está a salvo.

Que o diga Linda Evangelista, já não é a primeira vez que falamos dela por aqui, que revelou recentemente que, de 2018 a 2022, foi diagnosticada com cancro de mama. Duas vezes em apenas cinco anos. O que a levou a passar por tratamentos de quimioterapia e radioterapia em 2018 para, em 2022, ser novamente confrontada com uma reincidência, optando por se submeter a uma dupla mastectomia bilateral. Uma luta travada em silêncio, longe do público, que a ex-modelo revelou recentemente: “Disse ao médico para fazer um buraco no meu peito", recorda, "Não quero que fique bonito. Quero que escavem. Quero ver um buraco no meu peito quando acabarem. Não vou morrer por causa disto. Sei que estou com um pé na cova, mas estou totalmente em modo de celebração", referiu na altura.

Mas nem todas conseguem ter um diagnóstico a tempo. Quem não se lembra da Irina e da sua luta? Um registo honesto e partilhado diariamente com os seus inúmeros seguidores, que acompanharam, detalhadamente, a sua missão de amor e de partilha, de medo e de coragem, de impacto familiar e de percurso solitário, de dor individual, coletiva, e do seu final, triste.

Todas sofremos com a história da Irina. Todas queríamos que aquela jovem mãe, que deixou um filho menor e um marido viúvo, tivesse tido um final feliz. Que tivesse conseguido viver, que o amor a tivesse salvado, que pudesse estar aqui, este ano e neste mês de outubro, a dar o seu testemunho de sobrevivente, de vencedora. Não aconteceu. O cancro venceu.

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Por isso, este ano, este outubro, mais uma vez repetimos, incessantemente, as mensagens que todos os anos são divulgadas até à exaustão: ponha a mão na sua mama, apalpe-a, faça exames, esteja atenta aos sinais, vigie-se. Faça desporto, tenha cuidado com a alimentação, controle, priorize-se.

Independente destas atitudes preventivas e de autocuidado, lembre-se que só através do rastreio preventivo é possível um diagnóstico precoce, permitindo a descoberta de tumores muito pequenos, muitas vezes não palpáveis e só vistos em mamografia ou ecografia, ou em fase evolutiva não invasiva, permitindo, assim, tratamentos menos mutilantes (cirurgia conservadora) e menos traumatizantes.
[informação retirada do site da Liga Portuguesa Contra o Cancro]

Porque o amor cura, mas você tem de fazer a sua parte.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.