Esclarecer primeiro que o trigo é um dos cereais mais consumidos em todo o mundo e constitui uma parte significativa da alimentação humana. O grupo dos cereais, derivados e tubérculos, onde o trigo está inserido, é dos grupos essenciais ao nosso equilíbrio de saúde e o consumo destes alimentos é recomendado pelas principais entidades de saúde mundiais. Mas então porque existem tantas dúvidas acerca do trigo, glúten e os seus efeitos ao nível da nossa saúde?

O trigo na sua forma refinada é o que apresenta maiores dúvidas quanto à sua recomendação daí ser comum recomendarmos cereais, pão ou massas integrais, menos refinadas e com valores de índice glicérico inferiores causando menos alterações em termos de picos de açúcar e esforços na secreção de insulina. Mas a razão para se questionar recentemente o consumo de alimentos demasiado processados e ricos em trigo tem haver com o seu efeito como causador de reações inflamatórias e portanto nocivas para a nossa saúde.

A inflamação ocorre quando o nosso corpo reage a certo estímulo que causa dano ao nosso corpo, seja este estimulo microbiano, patogénico ou lesão. Quando este estimulo permanece durante muito tempo ou quando as células do nosso sistema imunitário são continuamente estimuladas a inflamação pode tornar-se crónica causando danos mais sérios à nossa saúde. Esta inflamação crónica tem continuamente sido associada a doenças cardiovasculares, metabólicas, cancro, doenças autoimunes, doenças mentais e depressão. Mas será assim o trigo tão nocivo? Tenho que limitar o seu consumo? Serei intolerante?

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A vulnerabilidade genética, stress e hábitos alimentares deficientes têm sido consistentemente associados à intensidade desta resposta inflamatória. No que respeita a questões alimentares destacam-se a níveis desajustados no consumo de ácidos gordos essenciais omega 3 e omega 6 (presentes por exemplo nos frutos secos e peixes gordos), uma ingestão aumentada e consistente de açucares mas também a outros hábitos como contacto frequente com certos agentes presentes no trigo e outros cereais capazes de serem pró-inflamatórios. Referir que algumas proteínas existentes em certos cereais entre as quais se destaca o glúten presente no trigo (excepto no trigo-sarraceno), parecem ter um efeito pró-inflamatorio muito vincado, estando relacionados com certas questões como alergias, asma e outro tipo de doenças onde se destacam as auto-imunes. Outras características deste tipo de sensibilidade manifestam-se através de alterações na permeabilidade das paredes do intestino, tornando-as mais frágeis e permeáveis a agentes nocivos. Ainda assim importa não dramatizar pois tantas pessoas se queixam que são intolerantes ao glúten embora se estime que apenas cerca de 1% da população tenha efectivamente esta intolerância.

A regra será como em tudo na alimentação: o equilíbrio e ajuste dos hábitos alimentares com a ajuda do seu nutricionista que equilibrará a necessidade ou substituição do trigo na sua alimentação. Saiba que o trigo está presente nos mais diversos alimentos: do pão às massas, das bolachas a tantos outros alimentos do nosso dia-a-dia. Ou seja: se necessário limitar o consumo de trigo ajudará e muito um equilíbrio alimentar ajustado para si de forma a evitar que a remoção do trigo não retire nutrientes fundamentais para a sua saúde poder ser optimizada e não diminuída. É um tema com alguma polémica mas onde diversos estudos evidenciam diversas vantagens de diversificar os alimentos não sobrecarregando o organismo com este potencial agente inflamatório. Cada vez mais há que recorrer a uma abordagem muito especializada. Conte com o seu nutricionista.com

Pedro Queiroz é o fundador das Clínicas de Nutrição do Porto e Lisboa e consultor de Nutrição. Mais do que ajudar pessoas a emagrecer o que realmente gosta é de mudar as suas vidas.