Sempre tive a desculpa de ser alta e magra para comer tudo o que me apetecesse. E quando digo tudo, é mesmo tudo, sem restrições. Claro que sempre ajudou ter um metabolismo porreiro, que não me deixava engordar, e de durante anos ter sido tão, mas tão magra, que me habituei a comer por dois, de forma a conseguir o tão ambicionado peso “normal” para a minha altura.
E foi assim durante anos e anos, mesmo com duas gravidezes pelo meio, facilmente perdia o peso que ganhava e voltava ao normal. Até 2020, ano em que o mundo parou com uma pandemia e em que ficámos meses fechados em casa. E comemos e bebemos como se não houvesse amanhã. Eu, pelo menos, foi assim que reagi.
Dei por mim a deixar a minha agitada vida diária – que consistia em quilómetros a pé diários para ir para o trabalho, a deixar de ir ao ginásio, a andar de um lado para o outro entre reuniões – e a ficar parada em casa, enquanto fazia pão e me banqueteava com queijos da serra e copos de vinho.
E não foi apenas um confinamento a contribuir para isso, foram dois. Qual deles o pior, em que a minha frustração emocional deu lugar a um consolo encontrado na comida e na bebida, naqueles dias em que quatro pessoas fechadas em casa – duas delas crianças – conciliados com escola online e reuniões de zoom, eram demais para conseguir aguentar o barco com batidos detox e agachamentos no quarto. Junte-se a isso a decisão de largar de vez os dois cigarros que fumava por dia, e pronto, eis o cocktail de carência emocional perfeito.
Decidi, na altura, que não me ia privar de nada. Já bastava as restrições que todos nós passávamos e que por isso, quando desconfinássemos e chegasse a altura, começaria a ser regrada e a perder os quilos que se foram instalando silenciosamente no abdómen, ancas e rabo.
Mas a verdade é que sabia que estava apenas a adiar um problema sobre o qual não me apetecia muito pensar na altura e onde fui, literalmente, arrastando com a barriga.
E eis que o desconfinamento chegou e com ele a primavera e o face a face com uma situação que eu já sabia que tinha de ser resolvida. Só não sabia muito bem por onde começar – ou melhor, até sabia, faltava-me era a resolução e a coragem de tomar uma atitude.
Acontece que o Universo tem uma forma muito própria de nos testar e eis que, há umas semanas, por mero acaso, decido participar num passatempo do método LEV, que se encontrava a oferecer um tratamento completo a custo zero. Pensei: “Ora aqui está algo que é um prémio porreiro e que não me importaria de fazer” e, com isto em mente, escrevi a frase que pediam, taguei duas amigas, fiz like na foto e segui com a minha vida.
Nunca mais me lembrei do passatempo. Até esta semana, altura em que recebo a notificação de que tinha sido a vencedora e que o tratamento era meu. Confesso que alternei entre o choque, a alegria, a incredulidade e o pânico. O primeiro pensamento foi: “E agora? Não há volta a dar!”. É que isto de se ser alta é uma excelente desculpa que vamos dizendo a nós próprias, mesmo quando sabemos que já estamos a passar a linha vermelha. Coisas como “não se nota assim tanto”, “é só mais aqui na zona da barriga”, “isto se eu fechar a boca vai ao sítio”… entre muitas outras desculpas de sabotagem que vamos dizendo a nós mesmas, enquanto enfardamos mais um chocolate e nos sentamos no sofá. Mas não vai. Aos 42 anos – a caminho dos 43 – não vai, com ausência de exercício físico e a comer como uma lontra marinha, não vai.
Por isso, assumo o compromisso de começar a dieta do método LEV esta semana e de, durante os próximos meses, perder efetivamente peso – e de NÃO DESISTIR – sob pena de passar a maior e mais profunda vergonha de falta de compromisso comigo mesma.
Como diz uma grande amiga minha, “sou ótima a cumprir responsabilidades para com os outros, mas péssima comigo” – e eu identifico-me com isso. Não falho com nada do que me pedem mas, se for preciso, desisto facilmente no que aos meus objetivos ou desejos diz respeito.
Serve este texto – e todos os que o leem – como um poderoso compromisso que faço publicamente para comigo e para convosco. Daqui a dois meses falamos e, nessa altura, vos direi todas as etapas emocionais do que foi fazer esta dieta: se passei fome, o que mais me custou – se é que me custou – e como fui gerindo todos os desafios.
Sei que para as próximas duas semanas tenho já alguns que terei de saber contornar e ter foco para não descarrilar. Mas não vou já começar a arranjar desculpas! Até porque tenho a mais profunda noção que segundas oportunidades como a que me foi dada, não existem! Chegou o meu momento da verdade. Vou dar uma de Daniel Larusso, colocar a minha fita branca na testa e conto convosco para serem os meus "Mister Myagis" e me policiarem.
(Também tenho noção de que os millenials ou geração Z que lerem esta referência não vão entender a minha piada, afinal, o ‘Momento da Verdade’ – mais conhecido por 'Karaté Kid' – já data de 1984, mas pronto, vou deixar à mesma, que um pouco cultura, mesmo que cinematográfica e aliada a uma metáfora de emagrecimento, é sempre informação valiosa que se leva para a vida!)
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