Ser crossfitter é cansativo. Não é só a actividade física em si, mas também a grande pressão social a que obriga. Uma vez crossfitter, passa-se a fazer parte de um clube privado, mega-exclusivo, a quem são dadas condições ainda mais privilegiadas a partir do momento em que passamos de frequentar a box três vezes por semana para livre trânsito. Esse status, que tanto custa a atingir e a manter, merece ser reforçado em todas as ocasiões sociais, pelos menos naquelas em que descrevemos o nosso dia, em que fazemos a shameless selfie ao espelho, quando enviamos nudes descaradas ao match do Tinder e, inevitavelmente, quando o tema da conversa é exercício físico.

#ÁguaPelaBarba: CrossFit – vaidade e terapia
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Ser crossfitter é ser Deus todo-poderoso na Terra (e eu sei que, dito assim, parece que vivemos num estado de graça permanente), mas isto é muito cansativo, minha gente. Eventualmente, considerar combinar esta actividade divina com outras actividades, seria, no mínimo, uma cobardia. E glorioso será o dia em que seremos abençoados com uma lesão. Sabem aquele orgulho viril do homem que afirma que foi à guerra? E da admiração que isso gera em seu redor? Admiração e atração sensual, diga-se… Dizer que somos crossfitters equivale a dizer que somos fuzileiros. Não tem a parte dos traumas psicológicos, mas as mazelas físicas lá estão para nos lembrar dos duros que somos e que ao menos estamos vivos para podermos dizer que passámos por duras provações na nossa existência.

Foram estas mazelas que me fizeram parar o crossfit e abraçar outras actividades recreativas. Enquanto não curar a dor do fémur que foi pressionado contra a bacia, vou ter de divertir o esqueleto com movimentos sem pressão e impacto. Quem olha de fora até deve pensar que ando a brincar aos atletas, mas neste interregno, preciso dar descanso ao corpo com esforços mais meigos: voltei à natação, comecei ginástica artística e, entretanto, também descobri o ritmo contagiante do cycling.

A natação é aquele desporto saudável que faz bem a tudo. Por ser dentro de água, o mínimo impacto é útil para a recuperação, estando ao mesmo tempo a exercitar toda a musculatura do corpo. Nado sempre 1500 metros entre crawl, bruços e costas. A sauna e o jacuzzi, no final, são sempre a cereja no topo do bolo.

#ÁguaPelaBarba: estarei a trair o Crossfit?
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Pensei que a ginástica artística fosse algo que, a dada altura na minha vida, teria de eliminar da minha to-do list. Mas, para minha grande surpresa, aos 39 anos descubro que é possível ingressar numa turma de ginástica artística para maiores de 16. E tendo acabado de decidir dar uma pausa no crossfit, isto foi só aquela sensação mágica de ter tido um match made in Heaven. Ia embora com pena de parar os headstands e os muscle-ups (que nem fazia ainda) e eis que a vida me dá também o cavalo, os mortais, as argolas, as paralelas, o trampolim e todo um mundo novo de possibilidades. Feedback da primeira aula: o professor diz que tenho facilidade nos movimentos e que só preciso treinar a técnica. I know, right? (eu a sentir-me eu-todo-completo).

#ÁguaPelaBarba: estarei a trair o Crossfit?
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Ainda há aqueles dias em que queremos algo mais interactivo e nem por isso menos exigente; em que queremos gastar as energias todas e mesmo assim manter a boa disposição: fui fazer uma aula de cycling na Studiorise sem nunca ter feito cycling na minha vida. Benzi-me antes, claro. Aqui, a música é protagonista, servida num sistema de som profissional (ao nível do que é usado em discotecas) e com um professor de dança cheio de atitude e carisma, que nos ensina os movimentos para “dançarmos” na batida da música. Impossível não ficarmos logo contagiados.

#ÁguaPelaBarba: estarei a trair o Crossfit?
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Resultado: aquela sensação de fazermos parte de um videoclipe e de voarmos em liberdade, a pedalar para fora deste mundo para, no final de tudo, adormecermos profundamente como uma rocha… é que nem o crossfit me levava para a cama desta maneira.

Além de secretamente estar a construir a sua própria marca de Moda (shhhh...), Bruno Reis é o responsável pelo Marketing e Comunicação de marcas de Beleza. Entre a criatividade e a estratégia, já foi actor, professor de yoga, gestor de redes sociais, fotógrafo e director de casting.