É já no próximo dia 30 de Setembro que Lisboa recebe mais uma edição do Wanderlust, o triatlo de corrida, ioga e meditação que se instalará nos jardins da Fundação EDP para um dia repleto de atividades que promovem um estilo de vida mais saudável. Entre os convidados encontra-se Aline Fernandes, professora de Ashtanga Ioga que virá de Nova Iorque para dar uma aula na manhã de domingo. Na véspera do seu regresso a Portugal, a Miranda conversou com ela.

Como começou o seu percurso pelo ioga?

Eu sou de uma cidade do sul do Brasil chamada Rio Grande, uma cidade portuária e piscatória onde a minha vida era muito feita outdoors, na praia, em contacto com a natureza. Quando comecei a trabalhar como modelo aos 16 anos, e comecei a viajar e a viver fora - em Milão, Paris, Nova Iorque -, eu saí desse elemento. A falta de contacto com a natureza e o facto de trabalhar em moda, que é uma área cujos valores são muito diferentes dos meus, fez com que eu procurasse um tipo de prática ou ferramenta que me fizesse regressar ao meu centro.

E em que cidade descobriu essa prática?

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Em Nova Iorque. Foram amigos que me contaram sobre uma prática chamada Ashtanga Ioga, e o que me deu vontade de experimentar foi saber que ao longo do tempo desenvolves a tua prática pessoal, ou seja, podes fazê-lo em qualquer lugar e em qualquer momento. Isso foi ideal para mim porque eu viajava muito, sempre fui muito independente e então precisava de uma prática que pudesse viajar comigo, que me desse liberdade.

E como foi a evolução desde a primeira aula até hoje, em que  é uma figura conhecida a nível mundial?

Foi devido à minha dedicação ao ioga, e porque sempre olhei para a aula como uma forma de elevar a consciência. Não considero isto uma profissão, é mais uma continuação da minha prática. A evolução foi gradual, comecei a praticar todos os dias, depois comecei a assistir nas aulas do meu professor Eddie Stern em Nova Iorque, e ia em simultâneo à Índia aprender com o guru Sri Pattabhi Jois. Depois de ser assistente, comecei a dar aulas. O ioga tornou-se uma extensão do meu dia-a-dia.

E agora regressa a Portugal para fazer parte do Wanderlust. Como é que tudo aconteceu?

Foi a organização que me contactou, porque viram que transmito essa questão de que o ioga é um estilo de vida e não uma prática física.  Estou muito feliz por vir dar aulas num evento tão especial, depois de ter estado recentemente a ensinar em Cascais.

O que é que distingue as suas aulas?

O cuidado com o aluno, dou muito ênfase à respiração e tento dar atenção a todos os alunos. Dou muita importância ao trabalho interno, e não só ao externo. Grande parte dos meus alunos vêm para o ioga porque pensam que é uma prática leve, e depois apercebem-se de que não é bem assim. Eu quero desafiá-los constantemente.

De que maneira é que o ioga a ajuda a ultrapassar as dificuldades da vida?

Acho que um dos grandes benefícios da prática é o facto de nos trazer clareza e confiança. A modalidade dá-te clareza na tomada de decisões porque te dá uma nova percepção, trabalha a respiração e o movimento, e uma nova forma de respirar leva a uma nova forma de pensar.

O que recomendaria a alguém que se quer iniciar no ioga mas encontra sempre desculpas para não começar?

Que comece pouco a pouco. Se arranjar sempre desculpas, nunca vai começar. Se não tiver uma hora disponível, faça meia hora. Diga ao seu professor que só tem meia hora e pergunte o que pode fazer em meia hora. Tem que começar de alguma forma, senão nunca vai acontecer.

Sendo que viaja tanto, como é que consegue manter a alimentação equilibrada?

Levo sempre bastante água, chás, especialmente para a garganta porque viagens de avião provocam-me sempre dores de garganta. Levo os meus suplementos - chlorella, wheatgrass, astaxantina, ómega 3, ómega 6, açafrão -, estas coisas eu levo sempre comigo. Tento comer comida simples, não comer nada muito pesado, sou vegetariana e como um pouco de ovos e peixe fresco. Quando viajo acho que é melhor comer um pouco menos. Se não encontrar o que procuro, como fruta.

Há alguma coisa a que não resiste?

Não resisto a chocolate preto.

Aline Fernandes: fomos conhecer a professora de ioga que vem ao Wanderlust
Fotografia: Gonçalo Silva

Qual é o lugar do mundo onde se sente em casa?

Qualquer lugar pode ser casa porque a casa está dentro de nós. Qualquer lugar em que consiga fazer a minha prática e alimentar-me bem pode ser a minha casa. Mas dos lugares que amo e em que me sinto bem… o Brasil, porque é onde estão as minhas raízes, o Havai e as ilhas gregas - o Havai pela força da natureza e a Grécia pela simplicidade e beleza.

Depois do Wanderlust, que outros projectos tem planeados para os próximos tempos?

Tenho várias ideias e muita vontade de as pôr em prática, mas agora estou num momento de construção e de ver como as vou aplicar. Ainda não posso dar respostas muito específicas, mas quero que a minha prática e forma de ensinar, seja de forma física ou virtual, abrace a questão ambiental e social. Ainda estou a ver como vou aplicar isso, se vai ser em aulas, em livros, mas é esse o caminho que estou a explorar.

Usa as redes sociais para amplificar a sua mensagem. Isso é feito de uma forma orgânica e natural, ou porque tem percepção do poder que estas ferramentas têm?

Eu uso-as como uma forma de me expressar, de partilhar o que estou a sentir e a pensar, e dicas sobre o trabalho e o processo de praticar ioga. É uma maneira de inspirar as pessoas a abraçarem esse estilo de vida.

Qual é o seu conselho para quem sente dificuldade em organizar a sua rotina, e não consegue ter mais foco em termos de alimentação?

Acho que as pessoas se preocupam demasiado com o que devem comer, e que suplementos devem tomar, e acho que devem simplificar. Não é parar de comer, mas simplificar o que comem; não aconselho cortarem alimentos radicalmente, porque isso é uma tortura e depois cria-se uma aversão. Mudanças pequenas geram mudanças grandes. É uma escolha muito pessoal, a pessoa tem que ver o que funciona para ela. E ter clareza de que tudo o que comemos afeta a forma como nos sentimos; os alimentos são fontes de energia. Quando as pessoas realmente perceberem que a nossa relação com a comida é essa, vão escolher alimentos orgânicos e locais, mais puros, mais simples.