Convenhamos, eu era aquela pessoa que sempre comeu tudo o que quis e que nunca aumentava de peso. Também fui aquela criança magríssima, escanzelada, com energia tipo coelhinho Duracell, que nunca parava quieta e a quem o pai, carinhosamente, chamava “Olívia”, numa clara alusão à Olívia Palito, namorada do Popeye.

Na adolescência, com a magreza quase extrema e com uma altura nada convencional para a época, os complexos apareceram. Tinha muita vergonha de ser magra. Toda eu era pernas. Mamas, nem vê-las. [desculpem-me os mais sensíveis!] E assim cresci, entre amigas e colegas com formas, habituada a ser sempre a mais esguia e mais alta de todos – inclusive rapazes.

#ÀFlorDaPele: momento da verdade
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Com o tempo fui-me aceitando e fazendo as pazes comigo mesma. Se foi um processo tranquilo? Não, mas nada que a idade e os anos não nos ensinem. Desenvolvi amor próprio e aprendi a amar as minhas pernas quilométricas, ou o facto de poder comer de tudo e de não engordar. Mas depois… depois veio uma pandemia mundial e uma quarentena que deu cabo de mim. Onde comi este mundo e o outro, em que fiquei sedentária e fechada em casa, cancelei a subscrição no ginásio, deixei de fazer caminhadas diárias e passei a estar dias e horas sentada em frente a um computador. Para compensar todo o caos emocional em que estava mergulhada, comi.

E bebi.

E engordei.

Primeiro 1 quilo, depois 2, depois 3.

#ÀFlorDaPele: 3 meses e 10 quilos depois, eis a minha história
Charles Deluvio/Unsplash

E não me preocupei. E continuei a comer o que queria e me apetecia. Fiz pão quase diariamente, enchi a barriga de croissants, petisquei chocolates e todo o tipo de doces por pura gula e fome emocional. E se no primeiro confinamento não me preocupei, sempre com a desculpa de que “Ah, sou alta e tal” e de a roupa nunca ter deixado de servir — embora ficasse consideravelmente apertada — já no segundo confinamento a coisa tomou proporções épicas e cheguei a ficar com o peso de quando estava grávida do meu filho, há seis anos. Ou seja, com mais 7 kg em cima.

Foi o meu sinal de alerta. Até que o universo, num dos meus muitos scroll down pelo meu feed de Instagram, me pôs à frente dos olhos um passatempo da Lev Portugal, ao qual decidi concorrer, mas sem acalentar esperança nenhuma de que o iria ganhar. Mas ganhei.

E foi assim que comecei esta caminhada com o método Lev, que me fez perder 10 quilos em menos de três meses. Comecei a 24 de maio e terminei agora em agosto, com carta branca para ir de férias liberta de comida Lev, uma vez que tinha atingido o objetivo final.

#ÀFlorDaPele: seguimos na luta!
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Durante este tempo, tive sempre acompanhamento da médica nutricionista, que foi estipulando o meu plano alimentar e por onde eu fui passando, ao longo dos meses, da fase 1 – a mais restritiva de todas e onde só se come comida Lev desde que acordamos até que nos deitamos – até às fases 3 e 4, as de manutenção, onde a comida “normal” já faz parte do nosso plano diário e onde são dados passos para uma vida normal pós-método Lev.

Ao longo deste tempo fui vendo a balança baixar, o que é bom e motiva, mas confesso que tive alturas muito complicadas. É complicado estar de dieta e de a mesma ser tão restritiva quando se tem almoços com clientes, ou algum tipo de convívio fora de portas. É difícil ir a um restaurante e pedir que não coloquem batata ou cenoura cozida no prato – mesmo que se coma peixe grelhado – e que só podemos acompanhar com feijão verde, brócolos ou couve-flor. Mas, com boa vontade, tudo se arranja.

Nunca tinha feito dieta na vida e a primeira conclusão que tiro de todo o processo é: fechar a boca é difícil. Resistir ao que se gosta requer foco e muita força de vontade. Mesmo com resultados visíveis. O primeiro mês foi também aquele em que perdi mais peso de forma mais rápida, mas também foi o que mais me custou.

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Bill Oxford/Unsplash

Ficar privada de fruta durante meses foi outra realidade difícil de lidar – logo eu, que amo fruta – e ainda por cima nesta altura do ano! Falhei a época das cerejas, por exemplo – cheguei a comprar uma caixa de cereja do Fundão para a família comer e eu ficar a vê-los enquanto salivava por dentro. Aprendi a preparar saladas como quem faz uma sandes, larguei o copo de vinho (a custo, mas estive mais de dois meses e meio abstémica!) e habituei-me a esta estranha forma de vida que é olhar para os rótulos dos iogurtes e alimentos e ver os seus valores energéticos, calóricos e de hidratos de carbono.

Basicamente, tornei-me aquela pessoa que eu nunca imaginei que viria a ser. Mas consegui! Perdi 10 quilos e voltei a ter o corpo que sempre me habituei a ter. Não deixei de vestir a minha roupa de sempre, mas esta deixou de estar apertada e agora está-me folgada.

Para mim, este processo foi uma prova e uma mostra a mim mesma de que consigo manter o foco. De que não desisto. De que, quando me empenho, consigo ter resultados. E acho que isso foi o melhor de tudo o que a perda de peso me trouxe.

Acho que quando comecei não tinha consciência de que a perda de peso não é apenas ver números a descer na balança, ou passares a vestir um tamanho ou dois abaixo. Muda-nos. Exige de nós estrutura, empenho, foco, atrevo-me quase a dizer: um sentido de missão.

E isso traz muitas coisas boas consigo. Não só o nosso reflexo no espelho e uma auto-estima melhorada, mas faz-nos ver qualidades que nem sabíamos que tínhamos em nós e que podem ser aplicadas a tantas áreas da nossa vida.

É só acreditar que conseguimos.

Mafalda Santos  fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.